A pressa do Fulgêncio

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Lá em Uruguaiana, terra da Califórnia da Canção, havia um granjeiro que possuía uma propriedade próxima à cidade. Tornou-se muito conhecido dos Policiais Rodoviários, tanto que raramente o abordavam, pois conheciam de longe sua camioneta.
Seu Fulgêncio era fanfarrão e tinha um jeito peculiar de falar, geralmente meio cantado e num volume altíssimo, praticamente gritando.
Os policiais já conheciam o vivente e não davam bola, pois sabiam que era apenas o jeitão do taura. Tanto que fazia mais de dois anos que o granjeiro não era mais abordado pela ‘Policía Caminera’ como se diz do outro lado em Libres.
Certa ocasião,foram designados novos Policiais Rodoviários para Uruguaiana. Os patrulheiros chegaram “querendo mostrar serviço” e, na primeira semana, passaram a fazer abordagens eventuais, inclusive na estrada de terra que dava acesso às propriedades rurais do município.
Certo dia, em plena colheita do arroz, Seu Fulgêncio teve que ir às pressas à cidade grande, pois precisava comprar uma peça da colheitadeira. De longe, viu a barreira da Polícia Rodoviária e já ficou meio irritado:
-“Só me faltava essa agora, os “home” tão “atacando”
O Policial fez sinal para que encostasse o veículo e dirigiu-se ao Fulgêncio:
-“ Bom dia, Parece que o senhor está meio com pressa ! Por favor, sua Habilitação e os documentos do veículo”
O Fulgêncio ficou indignado:
-“Como assim, “rapaz”, tu não me conhece? Sou o Fulgêncio. Tenho granja aqui pertinho e to com pressa mesmo. Preciso comprar uma peça pra colheitadeira urgente!”
O Patrulheiro respondeu, educadamente:
-“Realmente , não lhe conheço. Mas esta é uma operação de rotina, e o senhor trafegava com velocidade superior à permitida. Por favor, os documentos!”
O Fulgêncio “quente da cara” pelo “atrevimento” do jovem policial, começou a remexer no porta-luvas, esbravejando;
-“ Não sei se deixei na Granja!”
Quando finalmente achou os documentos, praticamente atirou os mesmos no policial e bradou, indignado:
-“A TUA sorte é que ta aqui!”
O Patrulheiro, calmamente, analisou os documentos e os devolveu ao Fulgêncio, dizendo:
-“ Muito bem, Seu Fulgêncio. Sua documentação está em ordem. Mas infelizmente vou ter que autuá-lo por excesso de velocidade.’
O Fulgêncio, em tom de deboche, lascou:
-“ Bueno, Seu Polícia. Como eu vou voltar correndo, pra economizar tempo, pode fazer duas multas aí: essa de agora e outra pra quando eu voltar. Daí, na volta, nem me manda parar e já “fiquemo certo”!