Dados preliminares de um estudo feito pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca indicaram que a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica e pela universidade britânica induz uma resposta imunológica adequada contra a variante de Manaus. Os resultados detalhados da pesquisa ainda não foram divulgados, mas a eficácia do imunizante contra a nova cepa é confirmada por pesquisadores envolvidos nos estudos, ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo.
A notícia é especialmente positiva para o Brasil, já que a Fiocruz firmou um acordo com Oxford/AstraZeneca e já começou a produzir a vacina. A previsão é de que ainda neste mês sejam entregues ao Programa Nacional de Imunização (PNI) 3,8 milhões de doses. Segundo a Fiocruz, pelo menos 200 milhões serão produzidas este ano.
Há o temor de que a vacina não proteja contra a nova variante. Mas o novo trabalho aponta que não devem ser necessárias adaptações no imunizante. “Os resultados preliminares são bem adequados”, afirmou um cientista ligado ao estudo, que pediu para falar sob anonimato. E acrescentou que os resultados definitivos devem sair “muito em breve”.
A AstraZeneca confirmou estarem sendo realizados estudos “para avaliar a resposta imune da vacina contra a variante P.1”. Informou ainda que “os dados serão publicados tão logo estejam disponíveis”.
Segundo Sue Ann Costa Clemens, coordenadora dos centros de pesquisa da vacina de Oxford no Brasil, o artigo com os resultados está em processo de submissão para uma revista científica.
Ela explica que foram realizados dois tipos de teste: in vitro e in vivo. No primeiro caso, foram enviadas amostras da nova cepa para Oxford para os cientistas britânicos avaliarem em laboratório se a resposta provocada pela vacina é suficiente para neutralizar a variante. Nos testes in vivo, foram analisadas amostras de pacientes que tomaram o imunizante e foram infectados para saber se a cepa de contágio era a P.1.
Um trabalho publicado online na segunda-feira, em formato de pré-impressão (ou seja, ainda sem revisão dos pares), na BioRxiv, revela que as vacinas da Pfizer e da Moderna também são eficazes contra a variante brasileira.
As vacinas contra a Covid combatem a chamada proteína Spike do Sars-CoV-2, responsável por possibilitar a entrada do vírus nas células. Mutações ocorridas nesta proteína podem, em tese, reduzir a eficácia dos imunizantes, mas algum nível de proteção pode ser mantido. Além disso, a produção de anticorpos não é a única tática do organismo. As células T, do sistema imunológico, também são recrutadas para destruir os vírus. “Estudos já indicaram que as vacinas mantêm a eficácia em evitar casos graves da doença e óbitos”, explicou o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Guimarães, da Federal de Minas Gerais (UFMG).