O furo da faca – um dos tantos causos do Severino Moreira

A Xerenguinha do Camarguinho

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Pois hora vejam, que o Severino, estava no galpão em um domingo de “manhãzita” numa peleia encarniçada para cortar um naco de carne gorda, que pelo visto devia ter sido um boi com no mínimo meia dúzia de anéis nas aspas de tão velho, pois não havia dente nem faca que entrasse sequer na graxa da costela, o quanto mais na carne, de modos que ele enfrentava um confronto desigual. Era a fome e a vontade de comer, contra a resistência do tempo, que diga-se de passagem ia levando uma larga vantagem.
Foi quando se achegou nas casa o seu amigo Camarguinho que compadecido com o sacrifício do parceiro, levou a mão à cintura e puxou uma “xerenguita”, que até não inspirava muita confiança. Já meio dentuda e sem ponta, mas segundo lhe afirmou, cortava até o fio do pensamento à léguas de distância, e que normalmente usava a tal faca para se “afeitar”.
O amigo merecia crédito, e então pegou a bendita faca e levantou para dar um talho…Diz ele que nem gosta de se lembrar, pois se preocupa até hoje, pois se lhe escapou a xerenga da mão e caiu de bico encima da costela, partindo ela ao meio, furando junto a caçarola de ferro batido que lhe servia de prato, a mesa feita com um tronco de tarumã, e ainda atravessou a barriga de um cachorro que dormia embaixo, rompendo três costelas de cada lado.
Mas, o pior, ainda, não foi isso, o azar é que a faca se afundou chão a dentro, a ponto de brotar uma vertente no piso do galpão, e olhem que nem anda longe o tempo, que fizera uma seca das braba e o vivente andava procurando água e pelo que viu na forquilha de pessegueiro o veio tava a mais de cem metros de fundura.
Alguns meses depois, ouvindo um noticioso no radinho de pilhas, ficou sabendo que um conhecido político japonês havia morrido degolado por uma faca que estranhamente havia brotado do chão, como se uma mola empurrasse para fora da terra, atingindo a goela do pobre homem.
Não se pode afirmar nada, e na verdade nem dá pra pensar nisso, mas sinceramente, às vezes o Severino se sente meio culpado e se pega remoendo o pensamento de que a faquinha do amigo possa ter varado o mundo e feito o serviço no nipônico, mas que teve repercussão tremenda em quase todo planeta, ah teve !
“Deuzulivre” que tenha sido, porque ele se preocupa ainda hoje e diz que até lhe dói na consciência.
Se alguém duvidar do que ele diz, a cacimba que fez donde brotou a vertente,ainda está lá num canto do galpão com a água mais cristalina e fresquinha que um dia alguém já bebeu….

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