Recuperação lenta torna setor de serviços refém da vacinação

Segmento fechou 2020 com queda de 7,8% e segue em um patamar quase 4% abaixo do período pré-pandemia

Foto: Divulgação/ Prefeitura de São Paulo

Responsável pela maior parte das riquezas produzidas no Brasil, o setor de serviços fechou 2020 com queda de 7,8% e caminha lentamente na tentativa se recuperar das perdas causadas pela pandemia do novo coronavírus. A retomada, ainda discreta em relação aos demais ramos de atividade, coloca os serviços como o segmento mais dependente do processo de vacinação contra a Covid-19.

Em dezembro, o volume de serviços prestados no Brasil interrompeu a sequência de seis meses consecutivos de alta e fechou o ano 3,8% abaixo do patamar registrado em fevereiro, último mês sem a adoção de medidas de isolamento social, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Um horizonte de uma recuperação mais contundente do setor de serviços passa necessariamente pela vacinação em massa da população para que os consumidores se sintam mais confiantes em voltar a consumir serviços de natureza presencial”, avalia o gerente da PMS, Rodrigo Lobo.

Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que a questão sanitária torna a crise atual diferente das anteriores, nas quais o setor de serviços sofreu impactos menos significativos, o que torna a imunização mais importante do que para os outros segmentos.

“O comércio e a indústria talvez podem ser beneficiados com uma nova rodada de pagamento do auxílio emergencial, mas o setor de serviços praticamente depende só da vacinação. Não tem outra saída, porque o caminho de recuperação apresentado é muito pequeno perto do que era antes da pandemia”, afirma.

Tobler avalia também que os efeitos positivos do processo de imunização precisam ficar claros antes do setor retornar ao ritmo de normalidade. “Só assim será possível aumentar a confiança das pessoas para sair de casa e reduzir a cautela para que a população volte a viajar e frequentar bares e restaurantes”, analisa ele.

O recente desempenho negativo do setor é justificado pela disseminação do novo coronavírus, que reduziu o número de viagens e hospedagens. Como consequência, as políticas de distanciamento social adotadas para conter a doença ainda ocasionaram no fechamento de serviços não essenciais, como bares e restaurantes.

Impacto no PIB

Na contramão dos serviços, o comércio e a indústria já recuperaram o patamar do período pré-pandemia, mas a lenta recuperação do principal setor da economia nacional tende a ser preponderante na queda das riquezas brasileiras do ano passado e pode limitar o crescimento de 2021.

“Como o setor de serviços, que tem o maior peso no resultado do PIB, ainda não mostrou uma recuperação suficiente para retomar ao patamar de fevereiro, isso tende a segurar um pouco os níveis mais avançados de recuperação mostrados pelo comércio e pela indústria”, lamenta Lobo, do IBGE.

Tobler ressalta que, além de corresponder à maior parcela da economia, o setor de serviços também é aquele que mais emprega no Brasil e perdeu cerca de 4 milhões de trabalhadores entre novembro de 2019 e 2020, de acordo com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

“É um buraco ainda muito grande para se recuperar no mercado de trabalho e depende ainda de uma recuperação do mercado de trabalho para poder aumentar a demanda e voltar à normalidade”, afirma Tobler. Para ele, 2021 ainda “não vai ser suficiente para recuperar tudo aquilo que foi perdido em 2020”.