Especialistas sugerem vacinação mesmo a quem contraiu o coronavírus

Vacina gera mais anticorpos e em número maior

Foto: Guilherme Testa/CP

O começo da vacinação contra o coronavírus deu novo alento à população brasileira. Apesar do início da distribuição de doses da Coronavac aos estados, muitas pessoas diagnosticadas com a Covid-19 seguem com dúvidas sobre a necessidade de receber o imunizante. Especialistas da área da saúde dizem que todos, mesmo quem já contraiu o vírus, devem tomar a vacina. A justificativa é que a dose gera anticorpos em quantidade maior – até 100 vezes mais – e consequentemente por mais tempo.

Como o comportamento do vírus é alvo de investigação entre cientistas em todo mundo, ainda não se sabe por exemplo por quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo das pessoas que se recuperaram da doença. Além disso, o surgimento de novas cepas do vírus, inclusive no Brasil, reforça importância da vacinação. Professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry explica que as pessoas que contraíram o vírus também devem tomar a vacina. “A vacina é fundamental, não há dúvida, mesmo para quem já teve”, frisa.

“Os anticorpos não são eternos”, explica especialista
O infectologista – que testou positivo para a Covid-19 no fim de novembro – garante que vai tomar a vacina assim que for chamado. Ele argumenta que existem casos de reinfecção e novas mutações do vírus: “Existem novas linhagens do vírus circulando. Estudos mostraram também que os anticorpos produzidos pelo organismo se extinguem com o tempo. Há gente falando em 90 dias, mas isso ainda é meio nebuloso”, observa. Conforme Petry, pessoas que tiveram a doença não se protegem automaticamente. Por isso, a vacina é fundamental: “Os anticorpos não são eternos, por isso recomendamos a vacina”.

Ao alertar que o vírus se desenvolve de maneiras diferentes em cada organismo, Petry reforça que mesmo pessoas vacinadas devem manter os cuidados de higiene e uso de máscara, já que leva em torno de 20 dias para o organismo desenvolver anticorpos para novas infecções. Ele frisa, contudo, que pessoas que apresentarem sintomas da Covid-19 devem aguardar que eles cessem para, depois, tomar a vacina.

Vacina gera imunidade 100 vezes maior
O médico infectologista Cláudio Stadnik, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, reforça que o vírus cria imunidade muito curta nos pacientes que contraem a Covid-19. O especialista observa que alguns pacientes foram diagnosticados novamente com a Covid-19 depois de alguns meses após testar positivo, os chamados casos de reinfecção. “Comprovadamente a vacina está gerando mais imunidade, mais anticorpos, numa quantidade muito maior do que simplesmente pegar o vírus naturalmente. Aparentemente gera uma imunidade 100 vezes maior”, avalia.

Conforme Stadnik, com passar do tempo os especialistas descobriram que as pessoas que testaram positivo para a Covid-19 ficaram imunes por tempos diferentes: “Isso depende da gravidade que ela desenvolve a doença. Se desenvolve de forma mais grave, a tendência é ficar mais tempo com imunidade, gerar mais anticorpos, maior imunidade. Se o quadro é assintomático, a tendência é produzir poucos anticorpos e ficar imune por pouco tempo”, compara. “O fato de ter tido Covid-19 não imuniza pelo resto da vida, mas por um curto período de tempo.”

Mesmo com início da vacinação a grupos de risco, Stadnik ressalta que as medidas adotadas desde o início da pandemia devem ser mantidas pela população. E reforça que mesmo quem recebeu imunizante pode continuar sendo agente de transmissão do vírus. “A recomendação continua sendo manter as medidas para reduzir epidemia: distanciamento físico, higienização frequente das mãos, uso de máscara quando não houver possibilidade de manter isolamento. A vacina é uma medida que vai acrescentar proteção”, enfatiza.

Ao citar os números de mortes da doença, Stadnik considera que “não podemos baixar a guarda”. O Brasil já teve mais de 214 mil mortes. “O que está acontecendo é um desastre, com mais de mil mortes por dia no Brasil. Nos EUA mais de 400 mil pessoas morreram. Na Segunda Guerra, foram mais de 300 mil pessoas, ou seja morreu mais gente nos EUA hoje do que na Segunda Guerra. Não podemos subestimar esse impacto todo”, alerta.

Ele reconhece que parte da população está cansada de ouvir as recomendações. “Mas o vírus não cansou, criando inclusive um mecanismo para ficar mais transmissível aparentemente. Não podemos permitir e aceitar que não existe impacto na sociedade.”

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