Técnica em enfermagem do Hospital de Clínicas receberá primeira dose no RS

Estado recebeu 341 mil doses do imunizante no primeiro lote liberado pelo Ministério da Saúde

Foto: Palácio Piratini/Divulgação

A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul vai começar com um ato simbólico, realizado na tarde desta segunda-feira (18). Na oportunidade, uma técnica em enfermagem do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que atua na linha de frente do combate à doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS), será a primeira paciente imunizada em solo gaúcho. Ao todo, o Governo do Estado já dispõe de 341 mil doses.

Em entrevista exclusiva à Rádio Guaíba (ouça abaixo), o governador Eduardo Leite (PSDB) se disse aliviado com o início da mobilização, marcada por uma solenidade organizada pelo Ministério da Saúde no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas/SP. Apesar do revés no número de doses, causado pelo entrave nas negociações para a liberação da vacina de Oxford/Astrazeneca, o cronograma será cumprido à risca.

Rádio Guaíba: O que representa e qual foi a sensação do senhor ao participar da solenidade de hoje, em São Paulo?

Eduardo Leite: É um momento de grande alegria. Há quase um ano, eu lembro que a primeira reunião que eu tive com a nossa secretária de Saúde foi, justamente, no fim do mês de janeiro para discutir as providências em relação ao coronavírus, que ainda nem tinha chegado ao Brasil. A gente já observava que, fatalmente, chegaria ao nosso país pelas condições globais todas. Quase um ano, então, de cuidados, restrições e perdas de vidas. A vacina é, efetivamente, uma perspectiva de desfecho deste momento dramático que vivemos. E é uma parceria importante dentro do Programa Nacional de Imunização (PNI). Não fazia nenhum sentido, sempre frisei isso, que se abrisse uma disputa entre os estados na aquisição das vacinas. O Brasil tem quase 50 anos de tradição no PNI. É uma estratégica nacional de vacinação na qual cabe ao estado responder pela estruturação interna, garantir a rede de frios que armazena essas vacinas, etc. Tudo isso nós já fizemos.

RG: Como fica o cronograma a partir de agora? Já há a definição de local, hora e paciente para a primeira dose?

EL: Tudo indica que a primeira vacina, que é simbólica e tem importância, será aplicada no Hospital de Clínicas. Será uma profissional, técnica em enfermagem do SUS, altamente dedicada. É um símbolo de todos os profissionais da saúde, que estão se entregando, se arriscando e colocando as suas famílias em risco, na linha de frente. Esta vacina deve ser feita no final da tarde de hoje e simboliza esse cuidado com a linha de frente, que é a prioridade nesta primeira etapa do cronograma de vacinação. Em seguida, temos também como prioridade a população quilombola, indígena e idosos albergados em instituições de longa permanência. Depois, temos os chamados “superidosos” e iremos chamando, enfim, a população considerada de maior risco.

RG: Já existe uma previsão de entrega para a segunda leva das doses, que deve ser da fórmula de Astrazeneca/Oxford?

EL: Há uma expectativa. O que houve, efetivamente, foi uma questão política/diplomática, porque a Índia estava começando o seu programa de vacinação. Isso aconteceu, ainda na semana passada, e deve descongestionar essa questão política, fazendo com que seja liberada entre entre hoje e amanhã a importação das vacinas. A expectativa é de que o avião brasileiro vá ao país entre hoje e amanhã. O Brasil também aguarda a liberação dos insumos necessários para a fabricação dessas vacinas na Fiocruz, que vêm de um fornecedor chinês. Nós começamos agora, mas fevereiro será um mês importante em ganho de escala e velocidade na estratégia de vacinação.

RG: Neste primeiro momento, serão vacinados apenas os profissionais da saúde? O plano teve de ser adequado por causa do número de doses disponibilizadas?

EL: A gente está seguindo aquele cronograma de vacinação. Tudo é definido em estratégia conjunta dentro do Conselho Nacional de Secretários da Saúde, com o Ministério da Saúde. Como é um Programa Nacional de Imunização, os estados atuam de forma coordenada – isso já é uma cultura, e não faria sentido que se perdesse agora. É dentro dessa estratégia, com a sinergia entre os estados, atuando de forma conjunta e sem disputas, que nós teremos a imunização da população brasileira. A imunização não é só importante apenas individualmente para quem toma a vacina; conforme aumentamos o número de pessoas vacinas, vamos cortando o ciclo de contágio e o número de casos vai diminuindo. Assim, mesmo as pessoas que não estão imunizadas acabam sendo beneficiadas pelo volume das que estão. A meta é vacinar, pelo menos, 95% de cada um dos públicos-alvo da estratégia.

RG: No interior do Rio Grande do Sul, a campanha já começa amanhã? Qual a capacidade da estrutura do Governo para a distribuição da vacina nas centrais regionais?

EL:
Hoje chegam as doses em Porto Alegre. A nossa equipe já finaliza as planilhas de distribuição para as 18 coordenadorias regionais de saúde. Assim que as doses chegarem ao Estado, daremos início à distribuição. Em 24 horas, todas as regiões do Rio Grande do Sul terão vacinas. Logo, vai levar de 24 a 30 horas para que todas as prefeituras gaúchas tenham acesso às doses que têm direito.

RG: Causou estranhamento no senhor a postura silenciosa do presidente da República, Jair Bolsonaro, quanto à aprovação das vacinas?

EL: Eu sempre digo que temos que ir mais pelo que nos une, do que pelo que nos separa. Naturalmente, há divergências entre o presidente da República e os governadores no que diz respeito ao distanciamento social. Houve negação da gravidade da crise sanitária e, consequentemente, econômica que o mundo passa por causa do coronavírus. A gente lamenta isso. Por outro lado, ressalto que o Ministério da Saúde sempre foi responsável com o Brasil, com os brasileiros. Nós recebemos insumos, respiradores, tivemos sempre o apoio do corpo técnico e do ministro da Saúde. A divergência se reside, justamente, em uma posição política do presidente da República – que a gente lamenta. Mas que bom que, até aqui, isso não impediu que trabalhássemos em conjunto para o avanço do programa de imunização. Agora, é trabalhar para fazer com que a população entenda a importância da vacinação – e, nesse sentido, também lamentamos a postura do presidente da República.