Hotéis do Litoral Norte prometem “rasgar multas” se não diminuírem restrições do decreto estadual

Ramo se sente prejudicado com os novos protocolos para conter o avanço da Covid-19 determinados pelo governo do Rio Grande do Sul

Foto: André Mello / Correio do Povo

O setor hoteleiro do Litoral Norte gaúcho está indignado. Combalido pela pandemia, desde março, somando meses de portas fechadas, o ramo se sente ainda mais prejudicado após o novo decreto publicado pelo governador Eduardo Leite que altera protocolos de bandeira vermelha do Distanciamento Controlado, situação em que a região se encontra no momento. Estabelecimentos se uniram para que o governo reveja decreto e promete protesto em frente ao Palácio Piratini se não houver sensibilização por parte de Leite.

Presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes e Similares do Litoral Norte e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio Grande do Sul (ABIH-RS), Ivone Ferraz encabeça a reação do setor às restrições impostas pelo governo gaúcho com o intuito de reduzir o avanço do novo coronavírus no Estado. Entre as medidas de Leite, está a proibição da permanência em locais abertos sem controle de público, como praias, parques e praças, onde são permitidas apenas circulação ou prática de exercícios físicos. O popular banho de sol e até mesmo os banhos de mar estão vedados. “O pessoal está revoltadíssimo. Este último decreto nos pegou de calças na mão”, diz Ivone.

Empresária da rede Ficare, com cinco unidades entre o litoral norte gaúcho e Santa Catarina, Ivone diz que as perdas com o novo decreto que representam “uma quebra de 50% em um final de semana”, trazendo um impacto significativo aos estabelecimentos. “Somos uma das regiões mais pobres do Estado e só temos o verão para faturar. E foi um ano difícil com esta pandemia, fomos um dos setores mais prejudicados”, lamenta.

O setor protocolou um pedido ao Piratini para suspender o decreto e espera uma resposta até esta segunda-feira. “Se não baixar na boa, vamos baixar o decreto na marra”, afirma a dirigente. “Não vamos fechar as portas e não seguiremos decretos. Se todos desobedecerem, vão fazer o quê? Não vai ter cadeia para todos os donos de restaurantes e clientes. Se vier multa, vamos rasgar”, ameaça Ivone.

Estabelecimentos já se organizam em grupos de mensagens pela internet, segundo a empresária. “Foram muitos prejuízos. E não tivemos redução de impostos e IPTU. Precisamos que o governo baixe a guarda e cuide da saúde do povo. Quem cuida dos nossos negócios somos nós”, critica Ivone, que se recupera em casa de infecção por Covid-19.

Queda

No primeiro final de semana de dezembro, hotéis já teriam filas de espera de turistas. Mas não é o que acontece em algumas das cidades mais procuradas do Litoral Norte em 2020. O Hotel Rediadri, em Capão da Canoa, amarga uma ocupação de 20% em relação a outros anos. “Temos 128 lugares e apenas 19 pessoas em uma sexta-feira. Houve uma queda drástica”, disse o recepcionista Francisco Soares.

O local não precisou reduzir quadro de funcionários, mas chegou a fechar as portas durante a pandemia. “Sem queima de fogos no fim de ano (outra medida do governo do Estado), as pessoas fazem reserva já perguntando. ‘Caso feche tudo, vão devolver o dinheiro?’. O pessoal quer uma garantia”, frisa Francisco.

Em Tramandaí, a mesma situação. No Hotel Beira-Mar, a orientação é de haver ocupação máxima de 30% da capacidade de hóspedes, como em qualquer hotel gaúcho. Mas as medidas do governador contribuíram para espantar os turistas, segundo o recepcionista Gabriel Araújo. “No ano passado, isso aqui ficava lotado”, lembra. Ele espera que a bandeira deixe de ser vermelha. “Para quem trabalha na área, fica a preocupação. Mas seguiremos trabalhando”, resigna-se.