Em debate acalorado, Melo e Manuela fazem últimas propostas antes do 2º turno

Candidatos à prefeitura de Porto Alegre participaram de debate promovido por Rádio Guaíba, Correio do Povo e Amrigs

Fotos: Ricardo Giusti/Correio do Povo

Candidatos à prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB) voltaram a se enfrentar em um debate promovido por Rádio Guaíba, Correio do Povo e Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), na tarde desta terça-feira. Faltando cinco dias para o segundo turno das eleições, os políticos apresentaram propostas para o futuro da cidade e promoveram um intenso embate ideológico no encontro.

A redução no número de participantes em relação ao primeiro turno proporcionou mudanças na organização do encontro, que já havia acontecido na fase inicial do pleito. Os candidatos ainda tiveram de manter o distanciamento mínimo de 2 metros, em razão da pandemia de coronavírus – mas, dessa vez, foram posicionados no palco do Teatro da Amrigs. Todos os envolvidos no debate foram orientados a usar máscaras de proteção.

“Tivemos um grande debate entre dois candidatos com propostas e ideias bem diferentes. Tanto na educação, quanto na saúde e segurança. Tudo para que nós, eleitores, tenhamos uma confiança ainda maior antes de irmos às urnas”, afirmou o diretor-executivo da Rádio Guaíba, Claudinei Girotti.

Economia

O futuro da economia de Porto Alegre foi o primeiro tema abordado pelos candidatos à prefeitura – motivando o primeiro atrito entre Melo e Manuela, que já haviam demonstrado ter pontos de vista bem diferentes sobre o tema. Enquanto um defende a reabertura total e a revisão dos protocolos de combate à Covid-19, outro condiciona a retomada à testagem da população.

“Nós pretendemos fazer a reabertura responsável da cidade e rever protocolos. E usar a questão tributária para poder fazer com que determinados setores que estão cambaleados possam reagir. Os eventos estão na lona. Tenho o compromisso de reabrir a cidade, com o equilíbrio da saúde com a economia”, disse Melo.

“Nós defendemos a criação de um comitê de crise para a gestão permanente, dialogando com a cidade. Mas também defendemos a gestão própria da vacina. O debate não é se a vacina é obrigatória, ou não. Vai-se fazer fila para vacinar. Por quê? Porque o povo quer trabalhar”, rebateu Manuela.

Vacina

Dando continuidade ao confronto de ideias no âmbito da saúde, os candidatos foram questionados pelo presidente da Amrigs, Gerson Junqueira, em relação ao planejamento para a obtenção da vacina contra a Covid-19. E, mais uma vez, as diferenças entre as duas plataformas apareceram no discurso dos postulantes à prefeitura.

“A partir de 30 de novembro, se eu for eleita, me deslocarei como ato inaugural a São Paulo, para conversar com o Instituto Butantan, e com outros governos e laboratórios que estão trabalhando na vacina. Quem está acompanhando a corrida pelas doses sabe que precisamos de pressa para garantir os insumos para a aplicação”, ponderou Manuela.

“Não me interessa de onde é a vacina, mas ela precisa ser testada. E quem comanda a entrada das doses no Brasil é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Às vezes me parece que a minha concorrente vai pegar um avião, ir para China e trazer a vacina para Porto Alegre. Não é assim que funciona”, provocou Melo.

Privatizações

Enquanto isso, a discussão sobre o panorama do sistema de transporte coletivo da cidade se transformou em um embate sobre a privatização da Carris. “Eu vou trabalhar por melhorias. Se o preço for mexer na Carris, abrindo o seu capital ou privatizando, eu não tenho nenhum problema. O meu foco é o cidadão”, ressaltou Melo.

A ideia foi contraposta pela candidata do PCdoB. “A Carris pública é fundamental para que as linhas cheguem às comunidades. A Carris assumiu todas as linhas que as empresas privadas abandonaram durante a crise. Imaginem se ela não existisse? Nós temos a tarifa mais cara entre as capitais por causa da última licitação”, argumentou Manuela.

Obras

O pacote de obras de mobilidade previsto para a Copa do Mundo de 2014, financiado a partir de recursos federais e municipais, voltou a esquentar o debate no Teatro da Amrigs. Sebastião Melo era vice-prefeito à época em que os empreendimentos tiveram início, e foi questionado a respeito dos motivos que levaram ao atraso da entrega.

“Porto Alegre recebeu quase R$ 1 bilhão para executar essas obras e não conseguiu finalizar. Por que acreditar que agora, com menos dinheiro, em um momento de crise, em meio à pandemia, vocês vão conseguir resolver os nossos problemas?”, questionou Manuela D’Ávila após uma provocação sobre experiência política.

O emedebista, por outro lado, atribuiu o fracasso do plano da Copa à atual gestão da Capital. “A trincheira da Ceará, em 2016, estava com 93% de conclusão. Marchezan levou quatro anos para entregá-la. Todas essas obras estavam encaminhadas. O atual prefeito é quem não concluiu os empreendimentos”, disse Sebastião Melo.

Segurança

Outro destaque do evento foi a troca de ideias sobre a segurança pública. A eficácia do cercamento eletrônico em Porto Alegre foi o único ponto de concordância entre os candidatos – que pretendem manter e ampliar o modelo atual. Houve, entretanto, um atrito quando o assunto foi o combate à violência contra as mulheres.

Manuela propôs a criação de casas de acolhimento para mulheres em vulnerabilidade. Melo criticou a posição da adversária em fazer uma gestão apenas para um grupo seletivo. Por isso, ressaltou que, se for leito prefeito, vai implantar medidas “para todos”. Melo defendeu também a integração das polícias em Porto Alegre.

“Vou copiar o governo Sartori. Se for prefeito, vou mandar uma lei para a Câmara dizendo que cada empresário pode reservar 5% dos tributos municipais para investir em segurança pública. Isso é para qualificar a Guarda Municipal, Polícia Civil e Brigada Militar que atuam aqui na Capital”, prometeu Sebastião Melo.

Já Manuela aposta em uma gestão com foco nas comunidades. “Para nós, também há a necessidade de descer do Centro de Comando Integrado e chegar nas comunidades. Nós faremos isso articulando centros comunitários de segurança. Cada região do nosso orçamento participativo, que tanto valorizamos, vai poder debater alternativas”, propôs.

Fake News

Sebastião Melo e Manuela D’Ávila trocaram acusações sobre um tema recorrente nas eleições desse ano: as notícias falsas nas redes sociais. Manuela citou o problema e questionou Melo sobre o posicionamento. Na resposta, ele disparou: “Tenho muito carinho por ti, mas, em matéria de mentira, estás sendo campeã”.

Na réplica, Manuela rebateu: “Ficou impressionado? Imagina eu. Só ontem foram 69 mil notícias (falsas) que nós derrubamos”. Na tréplica, Melo se defendeu: “Pode retirar 100, 200, 300 fake news, mas nenhuma ligada a mim. O Bolsonaro não me apoia, mas acho que torce por mim. A senhora devia dizer que o Lula, o Zé Dirceu, o PT, lhe apoiam”, finalizou.

Confira a íntegra do debate