Caso João Alberto: Polícia pode pedir mais prazo para finalizar inquérito

Até agora, fiscal vista tentando impedir outras testemunhas de gravarem o espancamento não foi localizada para prestar novo depoimento

Foto: Mauro Schefer/CP

Termina na sexta-feira, em tese, o prazo de conclusão do inquérito relativo ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado na saída do Hipermercado Carrefour, no bairro Passo da Areia, em Porto Alegre, na noite de quinta-feira passada, véspera do Dia da Consciência Negra.

“O prazo é de dez dias, mas se pode pedir prorrogação por mais 15. Se a delegada não conseguir concluir… ela vai pedir prorrogação”, esclareceu nesta terça-feira a diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez, à reportagem do Correio do Povo.

O caso é investigado pela delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP). Ela trabalha, durante toda a semana, na tomada de depoimentos de cerca de 20 pessoas consideradas testemunhas e na análise de novas imagens de câmeras de monitoramento. A policial também aguarda os laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP).

Ouvidos quando da prisão em flagrante, os dois seguranças devem ser novamente interrogados ao fim do inquérito.

A delegada Vanessa Pitrez destacou também que um dos objetivos do trabalho investigativo é “buscar a motivação da morte” da vítima. Os policiais civis pretendem dirimir a dúvida se o crime ocorreu ou não por motivação racial. Ela enfatizou ainda que João Alberto Silveira Freitas “figura como vítima” e que “o passado dele não importa para a investigação”.

Até agora, a fiscal vista com um radiocomunicador na mão e tentando impedir outras testemunhas de gravarem o espancamento não foi localizada para prestar um novo depoimento. Um outro funcionário, também investigado, já depôs. “A conduta dessas duas outras pessoas ainda está sendo apurada para ver se tiveram ou não responsabilidade”, explicou a delegada Vanessa. O inquérito avalia ainda se houve omissão de socorro e falso testemunho. O teor da suposta discussão ocorrida antes, envolvendo a vítima e funcionários do hipermercado, permanece ainda uma incógnita.

Manhã de terça-feira teve limpeza no estabelecimento

Na manhã desta terça-feira, a reportagem do Correio do Povo esteve nas duas filiais do Carrefour em Porto Alegre. Na do Passo da Areia, onde ocorreu o crime, um cartaz com a foto de João Alberto permanecia fixado na grade externa. No estacionamento interno onde ficou o corpo após as agressões, uma equipe de limpeza fazia faxina.

Já no segundo supermercado, no Partenon, podiam ser vistos os resquícios do protesto ocorrido na noite dessa segunda-feira. Uma caixa de telefonia vandalizada na calçada, pichações, uma parte da grade externa do empreendimento arrancada, pedras por toda a parte e restos de material incendiado. Cerca de 400 pessoas entre ativistas, grupos contra a discriminação racial e representantes de movimentos sociais participaram da manifestação com cartazes, faixas e gritos de ordem. A Brigada Militar relata que teve de agir, no fim do ato, lançando bombas de gás.

Empresa se explica ao mercado

Ainda nesta terça, o Carrefour Brasil reiterou, em Fato Relevante, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que está apurando todos os fatos e tomando as providências cabíveis sobre o caso. “A companhia não compactua com esse tipo de atitude e, como mencionado acima, está adotando todas as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos nesse ato criminoso”, cita o documento assinado por Sébastien Durchon, diretor vice-presidente de Finanças e Diretor de Relações com Investidores do Carrefour. Ele enfatiza ter rescindido o contrato local com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão.

Entre as medidas tomadas pela empresa, está a reversão de todo o resultado das lojas do grupo na última sexta-feira para projetos de combate ao racismo no Brasil. “Essa quantia obviamente não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar a evitar que isso se repita”, declarou Durchon. O treinamento com colaboradores próprios e funcionários terceirizados também está sendo reforçado.

O Carrefour informou a criação de um fundo para promover a inclusão racial e o combate ao racismo, com aporte inicial de R$ 25 milhões, anunciado na noite de ontem. Também garantiu estar trabalhando em um conjunto adicional de ações e iniciativas em prol da cultura do respeito e da diversidade.

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