Telemedicina ganha impulso e deve ficar na rotina após a pandemia

Cremers e Simers defendem uso, mas alertam para necessidade de regras e regulamentação

Portaria do Ministério autorizou a telemedicina - Crédito: Elza Fiúza / Agência Brasil / Divulgação

A pandemia causada pelo novo coronavírus acabou impulsionando a utilização de tecnologias em diversas áreas, inclusive na medicina. Especialistas do IEEE, organização mundial que reúne cientistas que trabalham tecnologia em prol da humanidade, creem que algumas mudanças de hábito permanecerão. E uma delas será a telemedicina.

“A teleconsulta não era bem aceita. Antes da pandemia, era vista com muita reserva por associações médicas. Em virtude da pandemia e do isolamento, ela se tornou um dos métodos bem aceitos pela comunidade médica para fazer um primeiro acesso a um paciente”, analisou o professor da Ufrgs e integrante do IEEE Jacob Scharcanski. “Acredito que essas tecnologias vieram para ficar.”

A opinião dele é compartilhada pelo colega da Ufrgs e IEEE, Luis Lamb. “Houve uma valorização das soluções clínicas médicas e científicas em razão da pandemia”, disse ele, em encontro virtual com jornalistas nesta semana. “Minha impressão é que o valor da ciência e da tecnologia foi aumentado em razão da pandemia.”

Portaria do Ministério da saúde de 20 de março deste ano, poucos dias depois de a pandemia ter sido decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), autorizou e incentivou a telemedicina. “Por meio das consultas remotas, haverá ampliação do acesso à saúde e assim poderá ser evitada a exposição da população ao novo vírus”, apontou o texto.

Cremers vê telemedicina como ferramenta

A normativa, contudo, tem caráter temporário e excepcional. Mas, na prática, acelerou o processo. “Um progresso de cinco, seis anos foi incorporado em questão de quatro, cinco meses”, analisou o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), Eduardo Trindade. Conforme ele, o Conselho vê com bons olhos a aplicação da tecnologia, mas faz ressalvas: “É impossível ser contra as novas tecnologias. Mas elas precisam ser bem aplicadas, em benefícios aos pacientes. Não pode ferir autonomia do médicio e nem do paciente”, afirmou.

Trindade defendeu o entendimento de que a consulta presencial é insubstituível, porém vê a tecnologia como um auxílio importante. “Uma das coisas que não dá para se confundir nos conceitos, é que a telemedicina vá substituir a consulta tradicional. Não. Ela é mais uma ferramenta que será utilizada no dia a dia. Seja para fazer um teleatendimento, para só apresentar o exame”, argumentou.

Ele citou como exemplo de aplicação da telemedicina a ferramenta disponibilizada pelo Cremers desde o início do ano, que emitiu mais de 350 mil receitas e 30,9 mil atestados. No contexto da pandemia, desta forma, pacientes tiveram suas requisições atendidas sem a necessidade de contato com outras pessoas ou mesmo deslocamento físico. “Era uma demanda que estava reprimida.”

Simers ressalta importância da regulamentação

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) também se posiciona favoravelmente à telemedicina, mas alerta sobre a necessidade de uma regulamentação. “A medicina é uma das áreas onde a tecnologia é mais utilizada. Devemos, por essa razão, incorporar tudo o que vier da tecnologia para a alpicação, entretanto tem que ser bem planejado”, afirmou o presidente do Simers, Marcelo Matias. “Não pode ser excludente como já foi, no sentido de ser uma tecnologia que só grandes poderes econômicos possam executar.”

Matias ainda apontou que é preciso garantir o cuidado com os dados dos pacientes e garantir uma maneira de assegurar a assistência a eles. “A despeito disso, temos convicção que é importante o desenvolvimento da tecnologia e que deve ser regulamentada com parcimônia.”