Pura lógica

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Eu me divirto com as contaçóes de “estórias” do Severino Rudes Moreira, uma melhor que a outra !
Diz que o Seu Licurgo amanhecera meio arrenegado naquele dia mormacento. A aftosa estava ameaçando os rebanhos da região e já chegara à sua amada querência. Estava mateando debaixo de um cinamomo, na companhia de dois guaipecas, coçando os dedos de um pé com o outro pé. As frieiras o incomodavam, a mulher estava sempre reclamando da catinga. Até usou creolina, mas ela até se mudou para o quarto do lado, pois não queria dormir com um boi abichado. ele achava que era exagero dela, até que um dia um urubu sumiu com o chinelo que havia deixado na varanda.
De repente, foi interrompido em suas divagações pela voz da patroa.
-Chegou um sobrinho teu num auto de praça. Acho que quer dinheiro.
-Viagem perdida.Dinheiro eu não dou nem empresto.
E ali estava o jovem, vestindo uma calça de Brim Coringa, calçando umas botas afrescalhadas, chapéu de mocinho-de-cinema, mãos finas e uma cara de “sorro” manso.
-A bênção, meu tio !
-Deus te abençoe, meu filho. Te abanca e tome um mate.
-Como é que tá a saúde, tio?
– Tudo bem, vai se levando. Já comecei a sentir o peso da idade, mas ainda to me sentindo forte. Quando os ossos começam a estalar e a gente passa a mijar de forquilha é porque tá ficando velho – brincou.
E a prosa se estendeu mais um pouco até o cola-fina se bandear.
Depois que o jovem foi embora, dona Maricota especulou o marido.
-O que ele queria…dinheiro??
-Sim, mas dinheiro eu não dou. Passei aquele terrinha lá do fundo da várzea pra ele plantar.
-A mesma que tu deu pro irmão dele, que depois vendeu?
-Aquele mesma.
-E que tu comprou?
-É lógico. Não posso deixar essas terras sair das mãos da família.
Bueno, passaram-se muitas luas e um dia o Licurgo recebeu novamente a visita do sobrinho. Pelo que se sabia, não havia plantado um só pé de mandioca nas terras que ganhara. Passava as tardes num bolicho, jogando bilhar e tomando cerveja.
Depois de muitos mates e rapadura com queijo, findou-se a conferência e o desabotinado se mandou à la cria de volta à cidade grande. A patroa tapada de curiosidade já veio indagando?
E daí meu véio, ele queria dinheiro?
-Não, ele sabia que os pilas eu não dou. O dinheiro é o que sobra do suor destilado -sentenciou em sua peculiar e estranha noção de mais-valia.
-Mas então, o que esse guri queria?
-Vender a terra. É lógico que eu comprei pra proteger o patrimônio da família !
Assim era a vida naquela estranha querência e assim era o Seu Licurgo. Quando criticado por seus atos, defendia o seu livre arbítrio com uma frase filosófica que não admitia contestação:
“Em matéria de “talqualmente”, cada qual com seu cada qual !”