Nitazoxanida baixa carga viral de pacientes com Covid-19, mostra pesquisa

Resultado de estudo clínico teve informações divulgadas em cerimônia no Planalto

Foto: Isac Nóbrega/PR

O estudo clínico do Laboratório Nacional de Biociências sobre o uso do medicamento nitazoxanida em pacientes na fase precoce da Covid-19 demonstrou eficácia no tratamento da doença, reduzindo a carga viral do paciente infectado. O anúncio ocorreu durante cerimônia no Palácio do Planalto, na tarde desta segunda-feira, com a participação do presidente Jair Bolsonaro.

O Laboratório Nacional de Biociências, em Campinas (SP), instituto vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), deu início ao estudo. O titular da pasta, ministro Marcos Pontes, celebrou o resultado positivo.

“O que eu posso dizer é que nós temos agora um medicamento comprovado cientificamente que é capaz de reduzir a carga viral. Com essa redução da carga viral, significa que reduz o contágio na pessoa que toma o medicamento nos primeiros dias, reduz a capacidade de contágio e diminui a probabilidade dessa pessoa ter mais sintomas, ir para o hospital e falecer”, disse.

O pontapé da pesquisa envolveu a análise de 2 mil drogas, testadas com inteligência artificial, para verificar se tinham chance de inibir os efeitos do vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19 no organismo humano. Os estudos no Laboratório Nacional de Biociências chegaram a cinco drogas, que foram para uma segunda fase, que era o teste in vitro feito com células humanas infectadas pelo coronavírus. Neste teste, o fármaco nitazoxanida, que é um vermífugo muito conhecido no país, apresentou 94% de capacidade de inibir o vírus.

Foi só após essas etapas que os testes em humanos foram iniciados, com mais de 1,5 mil pacientes voluntários, que tinham até três dias de sintomas e foram acompanhados em sete diferentes unidades hospitalares do país.

Nessa fase, de acordo com a coordenadora do estudo clínico, Patrícia Rocco, foram feitos testes duplo cego, quando nem o paciente e nem o médico sabem qual a medicação está sendo tomada, e randomizados, quando os pacientes são distribuídos aleatoriamente em dois grupos, um que recebe o medicamento e outro que recebe um placebo. A dose oferecida era de 500 miligramas da nitazoxanida, três vezes ao dia, ou o placebo durante cinco dias.

“Esses pacientes eram acompanhados de forma remota até sete dias após a terapia. Constatamos que a nitazoxanida, em comparação com o placebo, acarretou, ao final da terapia, redução significativa da carga viral e um maior número de pacientes com resultado negativo para o Sars-Cov-2″, disse a médica, que é professora titular e chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo Patrícia, esse resultado é de extrema importância, já que a nitozoxanida é um remédio de baixo custo e ampla distribuição, podendo ser usada de forma oral, e que não precisa de internação hospitalar. “Na dose utilizada, não apresentou reações adversas graves. A redução da carga viral implica em menor gravidade, em menor transmissibilidade do vírus”, disse Patrícia. A pesquisadora ressaltou que os estudos foram enviados para publicação em uma revista científica internacional e devem ser revisado por outros cientistas, a partir de agora.

Não é profilático

O ministro Marcos Pontes disse, durante o discurso, que o medicamento não pode ser usado por quem não está com sintomas da doença, mas apenas por pessoas em fase inicial da infecção. “Não é profilático, não é para prevenção. É só depois da detecção do vírus”, disse.

O presidente Jair Bolsonaro também comemorou o resultado da pesquisa e destacou a eficácia da nitazoxanida no tratamento da Covid-19.

“Através das observações, através de pessoas que concretamente usaram esse medicamento e foi constatado, na ponta da linha, que a carga viral diminuía. E dessas pessoas que usaram esse medicamento, nenhuma delas sequer foi hospitalizada”, afirmou.

Vacina obrigatória

Ainda durante a cerimônia, o presidente voltou a dizer que a vacina contra a Covid-19 não vai ser obrigatória no Brasil. Bolsonaro afirmou que cabe ao Ministério da Saúde definir as normas do Programa Nacional de Imunização.

“Tem uma lei de 1975 que diz que cabe ao Ministério da Saúde o Programa Nacional de Imunização, ali incluídas possíveis vacinas obrigatórias. A vacina contra a Covid, como cabe ao Ministério da Saúde definir esta questão, ela não será obrigatória”, disse.

O presidente também afirmou que qualquer vacina contra o vírus deve ter a eficácia científica comprovada e ser autorizada previamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).