A prefeitura de Porto Alegre, em conjunto com os demais municípios da Região 10 do Distanciamento Controlado, entrou com pedido junto ao governo do Estado para flexibilizar os protocolos previstos na bandeira laranja. A intenção do prefeito Nelson Marchezan Júnior é permitir que os estabelecimentos funcionem de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, já a partir desta semana. Por força do decreto que regra a bandeira vermelha, o comércio em Porto Alegre só pode abrir por quatro dias na semana. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira durante videoconferência com representantes da cadeia produtiva da cidade.
“Com a bandeira laranja podemos manter os protocolos que achamos mais necessários. Não concordamos em abrir o comércio aos sábados, por exemplo, como o Estado permite. Preferimos de segunda a sexta-feira”, salientou Marchezan. “A ideia é mantermos as mesmas regras na próxima semana”, acrescentou. A intenção do prefeito é evitar recuos, como a retomada das medidas restritivas de funcionamento. “Vamos seguir conversando para construir novas alternativas. Espero que não haja aceleração de ocupação dos leitos de UTI a partir do próximo final de semana, por conta os reflexos das flexibilizações. Pensando no contexto de que todas decisões têm reflexo para todos, temos a intenção de manter o comércio funcionando das 10h às 17h e os restaurantes, das 11h às 17h”, frisou.
Ele salientou que 40% dos leitos de UTI da Capital eram ocupados nesta tarde por pacientes confirmados para Covid-19 e 4% por enfermos suspeitos de terem contraído a doença, além de outros 12 positivados em emergências hospitalares, que seguiam a espera de transferência para terapia intensiva. “Estamos muito próximos do pico, que é 45%”, constatou. O secretário municipal da Saúde, Pablo Stürmer, afirmou que no início da pandemia, a demanda por leitos de UTI foi maior nos hospitais privados. “Hoje, a ocupação é uniforme. Temos a segunda maior proporção de leitos de UTI/SUS em relação à população entre as capitais brasileiras”, comparou. Segundo ele, em junho houve demanda acelerada de ocupação de leitos, mas a partir do final de julho há uma “razoável” estabilidade, que já dura quase três semanas.
O prefeito afirmou que, apesar da estabilização, o número de casos é uma referência não tão assertiva. “Por isso, vamos aumentar a testagem de quem precisa ser testado”, ressaltou. Marchezan revelou que o maior desafio no momento é alcançar o índice de isolamento social em 55%. Na segunda-feira, por exemplo, ficou em 39,4% – 11,4% acima do período pré-Covid – em consequência das flexibilizações.
De acordo com o prefeito, a mobilidade também é motivo de constante preocupação. Na segunda-feira, 227.848 veículos circularam pelas vias da capital gaúcha – volume superior aos 196.987 contabilizados em 1° de março. No dia 17, 49.210 veículos oriundos de outras cidades ingressaram em Porto Alegre, superando em 4.769 o total de visitantes em meados de março. “Os números, porém, retratam a falência do transporte público, cujas viagens médias diárias caíram de 20.297 para 8.290. Já o número de passageiros caiu de 801.165 para 295.297 em igual período, com uma queda de receita gigantesca. É um setor que vai demorar muito a se recuperar, uma vez que os reflexos econômicos foram significativos”, lamentou.
Apelos por mais flexibilizações
Durante a viodeoconferência, o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, fez um apelo para que o comércio de rua, por conta das restrições que se fazem necessárias, siga funcionando das 10h às 17h, e que os shoppings centers e centros comerciais possam funcionar das 12h às 19h. O pleito será avaliado nesta quarta-feira, durante reunião do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus, apesar do temor do prefeito de que a alteração culmine por estimular deslocamentos e aumentar as possibilidades de contágio. O secretário adjunto da Saúde, Natan Katz, avalia que “flexibilizar não é uma atitude que acontece da noite para o dia, já que os números da mobilidade tendem a aumentar nas próximas semanas”.
“Os negócios, da forma em que estão, penalizarão ainda mais as lojas de shoppings. As pessoas não estão indo passear nos shoppings, mas fazer uma
compra específica, já que as áreas de lazer estão fechadas. Este horário iria favorecer a diminuição de pessoas nas ruas”, defendeu o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky.
Segundo ele, a situação ainda é mais preocupante no segmento de bares e restaurantes: “Nosso setor está há muito tempo com boa parte dos estabelecimentos fechados, sem conseguir trabalhar à noite, sendo duramente afetado pela crise. Por questão de sobrevivência, desejamos trocar o funcionamento da segunda-feira pelo sábado”, pleiteou, acrescentando que também ficaria razoável o funcionamento de domingo a quinta-feira.
O prefeito, embora tenha prometido avaliar o pedido, praticamente descartou a possibilidade momentânea de atendê-lo. “Entendo a situação, mas avalio que os negócios devem buscar uma reinvenção, porque o cenário mudou. Existem os decretos estadual e municipal, mas há também a crise econômica decorrente da pandemia. A abertura à noite e aos finais de semana causa preocupação. O risco é o fechamento antecipado das atividades. É melhor ter alguma atividade funcionando para futuramente ampliar as flexibilizações”, argumentou.
Já o vice-presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Cláudio Zaffari, pleiteou o fim da limitação do uso de estacionamento em 50% nos shoppings e supermercados. Ele avaliou a regra como inviável: “As entidades têm conversado muito e sabemos que precisamos avançar por etapas e estamos indo por etapas. Se ampliarmos horários de funcionamento para oito horas, por exemplo, melhora a situação do transporte público. São microajustes com resultados econômicos importantes”, observou. Zaffari afirmou ainda que se o consumidor está saindo de casa e desobedecendo é porque precisa comprar. “Pequenos ajustes são importantes para a vida dos lojistas que está muito precária.”
Precaução para os próximos meses
Stürmer explicou que os meses de agosto e setembro serão muito importantes para analisar a evolução do vírus na Capital. “Não temos tranquilidade de dizer que só vamos descer na curva de contaminação. Vamos aguardar os resultados das flexibilizações nos próximos dias. É verdade que estamos em um momento de estabilização da ocupação de leitos de UTI, mas precisamos observar atentamente qual será a tendência a seguir”, afirmou.
Natan reforçou o argumento de que os próximos meses ainda serão críticos: “Do ponto de vista epidemiológico não estamos confortáveis. A tendência é melhorar, mas precisamos cuidar para não errar e termos repique nos próximos 20 ou 30 dias”, advertiu.
Testagem em massa nos canteiros de obras
O presidente do Sindicato da Indústria e da Construção Civil do RS (Sinduscon), Aquiles Dal Molin Júnior, afirmou que desde a retomada das atividades não houve registro de casos positivos para Covid-19 nos canteiros de obras. “O monitoramento é constante. A partir da próxima segunda-feira, por meio de parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), vamos realizar a testagem de todos os trabalhadores”, anunciou. Segundo ele, todas as obras serão abrangidas na cidade. “Uma van do Sesi passará em todas as obras para testagem em massa, aprimorando os cuidados dos trabalhadores da construção civil”, detalhou.
Os representantes das entidades empresariais devem se reunir novamente com o prefeito e equipe técnica da prefeitura na próxima semana para avaliar a situação e projetar novas flexibilizações. Na hipótese de o governo do Estado acatar o pedido, um novo decreto autorizando a abertura na sexta-feira será editado.