Ministro da Justiça demite diretor de órgão responsável por dossiê contra antifascismo

Ministério detalha que Mendonça determinou sindicância interna para apurar o trabalho da Secretaria de Operações Integradas da Pasta

Ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça. Foto: Divulgação / CP

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça, anunciou nesta segunda-feira a demissão do diretor de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), Gilson Libório de Oliveira Mendes. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

O órgão vinculado à pasta vinha monitorando opositores ao governo de Jair Bolsonaro. Toda a cúpula da secretaria havia sido trocada por Mendonça após a saída do ex-ministro Sergio Moro.

O trabalho da secretaria virou alvo do Ministério Público após divulgação de que o órgão produziu um dossiê com informações de 579 professores e policiais identificados pelo governo como integrantes do “movimento antifascismo”.

Em nota, a assessoria de comunicação do Ministério da Justiça detalha que Mendonça determinou nesta segunda-feira a instauração de uma sindicância interna para apurar o trabalho da secretaria. E, como primeira providência, afastou o diretor de inteligência.

Coronel reformado do Exército, Libório assumiu a vaga em substituição a Fábio Galvão da Silva Rêgo, delegado da PF, que havia sido nomeado na gestão do então ministro da Justiça Sergio Moro.

Reação
A divulgação da existência do relatório contra antifascistas gerou reação de parlamentares: Mendonça recebeu três pedidos de convocação para prestar depoimento ao Congresso Nacional e três requerimentos de informação feitos por deputados e senadores. Além disso, partidos políticos provocaram o Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o caso.

Parlamentares pretendiam ouvir o ministro nesta terça-feira, em audiência virtual. Mendonça, no entanto, avisou que não vai poder comparecer. O argumento é de que por ser um assunto sigiloso, não é possível tratar dele em uma sessão virtual, aberta ao público. Na nota, a pasta garante que o ministro está à disposição do Congresso para prestar esclarecimentos e que Mendonça abriu a possibilidade de receber os parlamentares em gabinete.

Um agente que integra o órgão desde a criação, na gestão de Moro, relatou que a missão da Seopi, antes, era produzir inteligência e realizar operações, mas “o foco era outro”. Segundo ele, não existia qualquer orientação para produção de relatórios contra inimigos políticos, como no período mais recente.

O funcionário público, que é oriundo da carreira militar, acrescentou que uma das grandes operações da Seopi coordenou a transferência dos líderes do PCC para presídios federais no ano passado. Na atual gestão, há orientação “expressa”, segundo esse profissional, para produção de relatórios com dados detalhados das pessoas monitoradas pelo órgão.

Procurados desde a semana passada pessoalmente ou por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, integrantes da secretaria não se manifestaram.