Bebê prematura extrema vai para casa após cinco meses de internação

Marina nasceu, com 22 semanas e três dias de idade gestacional

Era 12 de fevereiro e o relógio marcava 23h29min quando Marina nasceu, com 22 semanas e três dias de idade gestacional, com 483 gramas e 27 centímetros. Nove minutos depois também veio ao mundo sua irmã, Betina. O parto normal no Hospital Moinhos de Vento foi lindo, segundo a mãe Andressa de Borba Rodrigues. Apesar das dificuldades decorrentes da prematuridade extrema das meninas, Andressa foi acolhida e orientada pela equipe do Serviço de Neonatologia do hospital. Todos os riscos foram apresentados, mas também a garantia de que ela e as meninas teriam todo o suporte necessário.

A gravidez gemelar foi uma surpresa para Andressa e para o marido, Rafael Daboit da Silva. Na primeira ecografia, apareceu um embrião. Uma semana depois, eles escutaram dois corações. Após a descoberta, um novo desafio: se tratava de uma gestação de risco, de placenta única, ou seja, um dos bebês fez uma restrição seletiva de crescimento, porque o cordão umbilical era fino e por isso ele não recebia os mesmos nutrientes que o outro. Desde a 16ª semana, Andressa já estava em repouso absoluto e, em um exame de rotina, descobriu que o colo do útero estava aberto e ela entrou em trabalho de parto prematuro, com 21 semanas.

Como já estava internada no Moinhos, ela foi medicada para que fosse possível adiar pelo menos mais um pouco o nascimento das filhas. “Me explicaram que dariam o suporte necessário e precisaríamos ver o que ia acontecer, porque um bebê nessa idade gestacional, seria inviável, incompatível com a vida, o risco de ter grandes sequelas e ficar em estado bem complicado era muito grande, então tudo foi acontecendo”, lembrou. Todas as inseguranças e as incertezas de uma mãe de primeira viagem se misturaram com os medos por conta da prematuridade das filhas.

A chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital Moinhos de Vento, Desiree Wolkmer, explicou que a dedicação da equipe multidisciplinar foi essencial. “São muitas pessoas envolvidas em cada história que chega pra nós, porque ninguém faz nada sozinho” afirmou. Segundo Desiree, apesar de a equipe saber que bebês prematuros extremos têm uma sobrevida menor, todos lutaram juntos, ao lado da família. “Com 22 semanas, o bebê está na metade do desenvolvimento, em todos os sentidos, então todo o cuidado é para que o bebê se desenvolva dentro da incubadora da forma mais similar ao útero”, disse.

Trinta e seis horas após o parto, Betina não resistiu e acabou falecendo. Naquele momento a dor foi imensa, conforme Andressa, mas ela entendeu que foi o melhor para a filha. “Quando a mana partiu, tive o entendimento de que foi o melhor para ela. É uma dor enorme, mas sabemos que ela está em um lugar melhor, do que estaria nessa luta, em sofrimento”, desabafou. Um fato que chamou atenção da mãe, atenta a todos os detalhes, foi que as meninas ficavam em incubadoras umidificadas e, com o vapor daquele espaço, se formou um coração no berço da Betina, poucas horas antes de ela se despedir. E, logo depois, o mesmo coração apareceu na incubadora de Marina.

O casal, que reside no Litoral Norte, precisou mudar temporariamente para a Capital para acompanhar todo o período de internação da filha. Foram cinco meses e meio de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Moinhos de Vento. Ao longo desse período, ainda iniciou a pandemia da Covid-19, que restringiu ainda mais as visitas e demandou um cuidado redobrado dos pais. No dia 24 de julho, com 54 centímetros e 3,360kg, Marina teve alta. “Parecia que eu estava anestesiada, que não era verdade. Foi algo tão esperado, parecia que não era real, era um sonho. Eu estava finalmente levando meu maior milagre para casa”, contou Andressa, sobre o dia em que saiu do Hospital Moinhos de Vento e foi pra casa com a Marina nos braços.