O racismo no Brasil é “como uma panela de pressão que está pegando força e um dia irá explodir”, afirma Eliane Dias

Na sua opinião, ela acredita que o Brasil é um país mais violento em relação ao povo negro que os Estados Unidos. O fato poderá gerar uma guerra civil

Foto: Reprodução / Instagram

Eliane Dias, ativista pelo gênero e raça, em entrevista nesta segunda-feira ao programa Direto Ao Ponto, da Rádio Guaíba, comentou sobre o episódio recente, ocorrido em São Paulo, em que um policial imobilizou uma mulher de 51 anos pisando no seu pescoço. “A Constituição está valendo apenas para um lado; ela só vale para um tipo de pessoa. (…) Não foi só um desrespeito em relação à raça, mas em relação ao sexo. (Esse policial) é um homem violento que não respeita as mulheres”, garantiu. A advogada defende que os testes para integrar a Polícia Civil deveriam ser mais rigorosos, onde “o policial não pode ser alguém que aguenta apenas correr, mas deve ser alguém que tenha ética e moral”.

Momento da abordagem policial em São Paulo (Imagem: Reprodução do Twitter)

A cena é muito semelhante a do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e, na opinião da empresária dos Racionais MC’s, é muito perigosa. O Brasil “é como uma panela de pressão que está pegando força e um dia irá explodir de forma violenta”. Ela complementou relatando que pede “a Deus que uma guerra civil não aconteça porque nós temos uma educação diferente dos americanos, afinal o povo brasileiro não tem medo de ser violento” porque já perdeu tudo. “As pessoas não tem mais o que perder e uma guerra civil seria trágica”, lamentou.

Eliane acredita que o Brasil é um país mais violento em relação ao povo negro que os Estados Unidos. “O povo negro luta pela sobrevivência todos os dias” e “os homens e mulheres negros, no exato momento em que saem para rua, precisam enfrentar e lidar com o racismo”. Para lutar contra o racismo, é necessário “colocar os negros nos lugares ondes as pessoas acham que não são deles, como médicos, advogados e presidentes de empresas, e não apenas como força de trabalho”.

No país onde a cada 23 minutos um jovem negro morre, a advogada também registra que o Brasil é machista ao relatar que “a cada 11 minutos, uma mulher sofre com a violência doméstica”. Quando Eliane ingressou no meio cultural, “o machismo era uma atitude esperada”, mas que cabia a ela tentar superar o preconceito.

“As mulheres precisam se unir mais, andar mais juntas. Na pandemia eu vi a mulherada se matando, fazendo compras, dando aulas e executando a maioria das tarefas domésticas. Já os homens, eu vi se levantando tarde e saindo pra conversar. Os homens assumem menos as tarefas domésticas”, alfinetou. Além do seu trabalho como empresária no ramo musical, Eliane pretende lançar ainda este ano uma marca de roupas de street wear.

A pandemia não atrapalhou completamente seus planos profissionais ou pessoais, mas que hoje as coisas “andam mais devagar”. Para 2021, ela planeja trabalhar na recepções de jovens negros nas universidades para evitar que situações como as que ocorreram com ela se repitam. “Dos 100 alunos da minha sala, apenas dois eram negros. Eu e outro homem que tinha o seu próprio grupo com outros homens. (…) Até o terceiro ano, eu era sozinha e isso só mudou depois que quando uma professora disse que eu não deveria ser tratada de forma diferente porque meus colegas poderiam me encontrar em outras circunstâncias. Eu poderia ser juíza ou procuradora no futuro”. Ela finalizou sua participação no programa afirmando que “temos que viver o hoje sem se desesperar” e que “quando a gente larga pessimista, já saímos derrotados”.

Confira a entrevista na íntegra no link.