As abóboras se acomodam no andar da carreta

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

O ciclone veio não só como um “arrasamundo” mas também como uma forma de limpeza de muitas coisas, inclusive de atitudes, de pensamentos, de formas de comportamento.
Acordei na madrugada do evento com muito medo, pois além da velocidade do ventos a chuva e o frio eram intensos.
Tive sorte que na minha casa nada sucedeu. Nenhuma telha fora do lugar, os animais todos bem e na volta alguns galhos de árvores caídos que não afetaram nenhuma residência ao redor.
E com esse vendaval lá se foi a luz e com ele o telefone ao qual estamos tão acostumados que parece parte do nosso ser, objeto inseparável e que as redes sociais nos prendem muitas vezes até altas horas da madrugada.
Ficamos totalmente incomunicáveis nesses três dias. E como foi válido esse acontecimento.
Acendíamos o fogo na lareira, os nossos animaizinhos de dentro de casa junto à nós, o mate correndo solto, e a conversa…. ah a conversa tão necessária, que com a televisão e o celular nos afastam desse convívio de botarmos a charla em dia.
Comentamos sobre isso, como é importante esse envolvimento tão difícil nestes tempos modernos . A familia, os pontos nos “is”…. falar sobre tudo que gira no mundo ao redor desse vírus que mata a cada minuto milhares de pessoas. Pedir em prece por todos, e principalmente naqueles três dias por tantos que ficaram sem lar, desabrigados com o estrago desses ventos loucos.
Pensei naqueles moradores de rua, como o Seu Edson e sua cachorrinha Bebel, que dormem na esquina da Caldas Jr junto ao prédio do Correio do Povo, à mercê dessa intempérie…e que alguns dos meus colegas aí da Rádio Guaíba conhecem, e nós… na beira da lareira, aquecidos, de barriga cheia, dentro de casa….
Esse mundo é mesmo complicado de se entender. Uns com tantos, outros com nada.
Pois foram três dias que me fizeram pensar muito, repensar, e renovar minha fé e coragem. Tudo se ajeita, as abóboras vão se acomodando conforme o andar da carreta, e nada é por acasa. Deus sabe o que faz.
Sempre há de ter uma mão amiga que passa e estende um prato de comida, um cobertor, como o fazem o Sopão Solidário, e outros tantos que dão assistência aos moradores de rua.
Temos o Banho Solidário que fornece material de higiene, roupas, água quente para um banho que limpa o corpo e a alma. E até documentação eles ajeitam pra esse pessoal necessitado.
Que não seja precisa mais ciclones pra gente se convencer que a solidariedade é uma ato de bravura nesses tempos bicudos pois a grande maioria não sabe o que vai ser de suas vidas, de seus empregos.
Que estejamos sempre prontos para enfrentar essas batalhas e que não nos falte munição em forma de carinho, de desprendimento, de generosidade para ajudar o próximo.