O amigo errado

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

O Edson Nunes Moreira, lá da Vila Treze (hoje Santo Antonio das Missões), é um missioneiro que enaltece suas origens. Carrega na bagagem um eito de histórias que ele narra com muita criatividade. É dele esse causo.

Pois, naquele ocasião, a Timbaúva se encheu de gente. De Bossoroca, São Luiz Gonzaga, Santo Antonio, mais uns cola-finas vindos de tudo que é lugar, mormente de São Paulo e Rio. Pudera, quem é que ia deixar de ver o casamento do Rui e da Dica… De novo?!
Era tempo de seca braba, que ia queimando tudo. De um vento assombrado, que levantava ” os oitão” das casas.De um solaço de amolecer a moleira do vivente. Tão quente que até os vira-bostas trabalhavam na sombra da própria carga!
Foi esse cenário que o Magrão encontrou na grande festa das bodas dos tios. Era muita gente ! Contemporâneos, parentes, amigos e uma tropa de desconhecidos que te olhavam como se fossem irmãos. O Magrão- coronel reformado- fez uso da boa tática pra não parecer exibido ou mascarado. Sestroso, chegando de manso nas rodas pra ouvir as secas ou algum nome que lhe avivasse a lembrança. E, então, lascava:
-Zeca, amigo velho, há quanto tempo, como tem passado?
– Mas adiante, no entrevero, se pecha com um mais íntimo:
-Medarte, seu desinfeliz, mas que saudade. Tu não mudou nada, animal!
Mas a medida que o tempo ia passando, a alegria crescendo, a bebida subindo, o Magrão foi ficando auto-suficiente. Alarife, abriu a guarda e adotou a velha tática indígena : chegava atropelando, de peito aberto. Foi quando avistou o amigo de infância, companheiro de peladas e de baile. ” Amigo-de-comê-no-mesmo prato” :
-Ora, ora, se não é o meu velho amigo Nabé. Venha de lá um abraço, seu fresco.
A resposta veio seca, meio amuada:
-Eu não sou o Nabé, Sou o Homero.
Pugilista de televisão, o Magrão assimilou bem o golpe e tentou remendar o bacheiro com fios de seda:
-Mas claro, onde estava a minha cabeça?! Nós éramos três amigos inseparáveis, parceiros de fé: eu, tu e o Déco.
O retruco, agora sim, foi seco e emburrado:
-O Déco sou eu.
Um burrito que passava por ali, saiu de fininho. Não queria servir de esconderijo para o magro envaretado.

Conclusão: É o que dá quando o vivente se passa na “canjibrina” e se mete de paleta… a rodada é certa!

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