Muçulmanos de todo mundo seguem a recomendação religiosa de consumir os chamados produtos Halal – permitidos pela religião islâmica. Halal é um padrão ético e moral de ações lícitas não só na alimentação, mas também no ambiente social, na conduta, na Justiça, nas vestimentas e nas finanças.
Mas por que será que produtos Halal – sobretudo os alimentícios, cosméticos e fármacos – vem despertando o interesse não só dos quase 2 bilhões de muçulmanos que existem no planeta, mas de todos os adeptos do consumo consciente? Mohamed Zoghbi, presidente da FAMBRAS Halal – primeira certificadora Halal do Brasil, em atividade há mais de quatro décadas – explica: “O alimento Halal deixou de ser um requisito exclusivamente religioso. Ele vem se consolidando como um conceito de segurança alimentar. São produtos que, em todo o seu processo produtivo, contaram com matérias-primas, processos, mão de obra e embalagens que não trazem qualquer prejuízo à saúde e à segurança das pessoas”.
Para obter a certificação Halal, um produto precisa seguir algumas etapas. Primeiramente, a indústria passa por um processo de avaliação documental, seguido por auditorias e ensaios laboratoriais. Durante estes três processos, são verificadas as matérias-primas utilizadas na fabricação do produto e sua produção. Algumas matérias-primas e insumos não são permitidos pela lei islâmica como, por exemplo, os derivados do porco. Também não pode receber o certificado um produto que afeta a saúde humana, prejudica o solo e compromete os recursos naturais, ou que utiliza, por exemplo, mão de obra escrava ou infantil em seu processamento.
Além disso, os auditores verificam se todas as informações foram passadas de forma transparente, se a conduta comercial da empresa é correta e justa em suas negociações e, caso o produto envolva o uso de proteína animal, também o abate precisa seguir procedimentos específicos. “É igualmente importante, para obter a certificação Halal, o fato da empresa destinar parte de seus lucros para promover benefícios sociais e ao meio ambiente”, completa Zoghbi.
Passadas estas etapas, um Comitê de Certificação avalia todas as informações coletadas e as analisa com bastante rigor. Servem de base, além da legislação nacional, as principais normas nacionais e internacionais referentes ao Halal e segurança de produto. Só após a aprovação do Comitê é que o certificado é emitido.
Números expressivos – A certificação Halal, nos últimos 40 anos, vem abrindo portas para as indústrias e produtores de alimentos brasileiros exportarem seus produtos para o mercado islâmico – oportunidades crescentes e de extrema importância para a economia brasileira.
De acordo com dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o Brasil é o terceiro maior parceiro comercial dos países árabes, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Somente no ano passado, o bloco comprou mais de US$ 12,2 bilhões de produtos brasileiros, uma alta de 6,3% em relação a 2018. A pauta de exportações foi liderada por frango, açúcar, minério de ferro, carne bovina e grãos.
O Brasil segue como líder mundial quando o assunto é frango Halal. Em 2019, as vendas de frango subiram 6,41%, atingindo a cifra de US$ 2,378 bilhões. Já a carne bovina gerou US$ 1,168 bilhão, alta de 2,65%.
O mercado Halal mundial valerá, pela primeira vez, mais de US $ 2,5 bilhões em 2020, de acordo com as previsões da consultoria A.T. Kearney, feitas no final de 2019. Essa soma pode chegar a US $ 3 bilhões até 2023.