Integrantes e ex-integrantes do Banco Mundial ouvidos em caráter reservado pelo jornal O Estado de S.Paulo disseram hoje estar “chocados” com a indicação do ministro demissionário da Educação, Abraham Weintraub, para o cargo de diretor-executivo da instituição. Na avaliação de fontes ouvidas pela reportagem, ao colocar no cargo uma pessoa que já deu declarações contrárias ao multilateralismo, o Brasil pode virar “piada internacional”.
Ao menos em termos financeiros, a troca de cargo significa um salto para o ex-ministro. De acordo com um documento do Banco Mundial, a remuneração dos diretores-executivos do órgão gira em torno de US$ 21.547 mensais, o que equivale a cerca de R$ 115,9 mil. Como ministro, o salário dele era de R$ 31 mil mensais – ou seja, Weintraub vai ganhar quase quatro vezes mais.
Nesta tarde, ao anunciar a saída do MEC, Weintraub revelou que vai assumir um cargo no banco. O governo brasileiro também oficializou a indicação, informou o Ministério da Economia. Em nota, a pasta comunicou que Weintraub vai ocupar a cadeira na diretoria liderada pelo Brasil, representando Colômbia, Equador, Trinidad e Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá.
Com a escolha sob questionamento, a nota da Economia tenta destacar a experiência profissional de Weintraub. “Com mais de 20 anos de atuação como executivo no mercado financeiro, Weintraub foi economista-chefe e diretor do Banco Votorantim, além de CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e na Inglaterra ”, detalha o texto.
Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ironizou a indicação. “Não sabem que ele (Weintraub) trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009. Ele era um dos economistas do banco”, relembrou.
Polêmica
Um ex-integrante do alto escalão do Banco Mundial, que pediu para não ser identificado, ressaltou que, na diretoria, Weintraub vai ter de se adaptar ao código de ética do organismo, que proíbe declarações sobre a política dos países membros. Nos últimos meses, o ex-ministro ironizou a atuação do chineses diante da pandemia de coronavírus.
Ainda conforme o Estadão, apesar de a indicação ainda ter que ser aprovada por outros países, a avaliação é que se trata de um procedimento pro-forma, sem chances de ela ser rejeitada, já que o Brasil detém mais de 50% de poder de voto.