Polícia de Minneapolis imobilizou 428 pessoas por asfixia desde 2012

Segundo levantamento, técnica em que o policial coloca o joelho no pescoço de um suspeito foi usada em 428 pessoas desde 2012, a maioria negras

Imobilização pelo pescoço foi usada centenas de vezes em Minneapolis Reprodução YouTube

A cena que chocou no mundo, o policial Derek Chauvin ajoelhado sobre o pescoço de George Floyd em uma rua no centro de Minneapolis (EUA), aconteceu pelo menos uma vez por semana, em média, nos últimos 8 anos na cidade. A diferença é que, no último dia 25, terminou com a morte de Floyd, o estopim para protestos contra o racismo que já duram mais de uma semana nos EUA.

Segundo dois levantamentos, feito pelas emissoras norte-americanas CNN e NBC com registros policiais de Minneapolis, desde 2012 a manobra foi usada 428 vezes. Destas, 58 chegaram a desmaiar e a maioria delas se feriu. Não existe, no entanto, um compilado sobre a gravidade desses ferimentos e casos recentes, como o de Floyd, ainda não foram incluídos nas estatísticas.

O levantamento étnico dessas pessoas mostra como a abordagem muda de acordo com a cor da pele: dos 58, 33 eram negros, quase 57% do total. Isso em uma cidade em que apenas 19% da população é negra, segundo o censo. Dos outros, 19 eram brancos, 3 de origem indígena, 2 mestiços e um asiático.

De acordo com a imprensa norte-americana, a maior parte das polícias do país deixou de recomendar a restrição de movimentos com o joelho no pescoço dos suspeitos há décadas, justamente por conta dos riscos de lesões graves que ela oferece.

O ideal é que ela seja usada apenas em casos em que a pessoa ofereça um risco real à vida do policial. No entanto, o manual da polícia de Minneapolis traz uma linguagem um tanto ambígua. O documento foi publicado em 2012 e sofreu uma revisão parcial em 2016.

Tragédia anunciada

“A conduta lá não parece a mesma utilizada na Califórna e em outros locais com as melhores práticas, que é que se os policiais não tiverem uma enorme cautela com essa opção, a probabilidade de uma lesão séria ou até morte cresce de maneira significativa” disse Ed Obayashi, policial na cidade de Plumas, na Califórnia, e um dos principais especialistas em uso de força do país, em entrevista à NBC.

Segundo ele, isso deveria ser senso comum entre agentes do Estado. “Toda vez que você interrompe as vias aéreas ou o fluxo de sangue para o cérebro de alguém, pode acarretar em lesões muito sérias ou morte, como vimos em muitos desses episódios, é uma tragédia anunciada”, analisou.

Richard Drooyan, que ajudou a revisar as práticas da polícia de Los Angeles após o espancamento de Rodney King, que gerou protestos que duraram semanas na cidade em 1992, disse que a técnica usada em George Floyd deveria ser utilizada apenas em casos em que a vida do policial esteja em risco.

“Muitas vezes, a justificativa é que o suspeito teria resistido à prisão ou fugido, mas mesmo quando isso acontece, nem sempre significa que o suspeito esteja armado ou seja perigoso. Observar um grande número de casos em que os indivíduos foram presos pelo pescoço, mesmo que não oferecessem risco, é complicado”, disse ele.

Em entrevista à CNN, o professor de Direito e especialista em violência policial Seth Stoughton disse que o ideal é que a técnica seja banida em Minneapolis, da mesma forma que aconteceu em outras cidades e que o que viu no caso de George Floyd foi “completamente inapropriado”.

“Se for aplicada adequadamente, a imobilização pelo pescoço pode ser relativamente segura. O problema é que é muito difícil para os policiais, no calor do momento, aplicá-la de maneira adequada, e ao mesmo tempo muito fácil de aplicar de maneira inadequada, o que pode causar lesões sérias”, analisou.