Celso de Mello decide liberar íntegra de vídeo com reunião ministerial

Ministro do Supremo atende a pedido de Moro e contraria solicitações da AGU e da PGR. Presidente Bolsonaro já havia dito não se importar com conteúdo

Foto: Marcos Corrêa / PR

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello decidiu, nesta sexta-feira, divulgar a íntegra do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. A única restrição imposta envolve trechos específicos em que há referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática, China e Paraguai.

No encontro, o presidente Jair Bolsonaro tentou, supostamente, interferir politicamente na Polícia Federal (PF), de acordo com informações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.  A prática, se confirmada, pode configurar crimes como advocacia administrativa e corrupção contra Bolsonaro. Porém, o próprio presidente disse que, da parte dele, não havia problema em divulgar o vídeo.

“Se precisar, pode divulgar. Não existem as palavras “Polícia Federal” em todo o vídeo. Não existe a palavra investigação sobre filhos. Eu falo sobre a segurança da minha família e meus amigos. Ou você acha que não há interesse em fazer uma maldade com filho meu?”, disse na semana passada.

Na última segunda-feira, Mello informou que havia recebido da PF uma atualização “sobre o andamento das investigações criminais”, além de um “pen drive contendo vídeo e áudio da reunião ministerial de 22/04/2020”.

Celso de Mello decidiu pela divulgação completa depois de pedir a opinião da defesa de Sergio Moro, da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Advocacia-Geral da União (AGU).

A gravação na íntegra atende a um pedido da defesa de Sergio Moro, que defendeu que “há clara ausência de qualquer assunto pertinente a Segredo de Estado ou que possa gerar incidente diplomático, muito menos colocar em risco a Segurança Nacional”.

Ao mesmo tempo, a liberação da íntegra contraria os pedidos da PGR e da AGU. Ambas queriam a liberação de apenas parte do vídeo.

Para a PGR, “a divulgação integral do conteúdo o converteria, de instrumento técnico e legal de busca da reconstrução histórica de fatos, em arsenal de uso político, pré-eleitoral (2022), de instabilidade pública e de proliferação de querelas e de pretexto para investigações genéricas sobre pessoas, falas, opiniões e modos de expressão totalmente diversas do objeto das investigações”.

Entenda a polêmica

No dia 22 de abril, houve uma reunião ministerial com toda a equipe, da qual o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, participaram.

Nesse encontro, Bolsonaro disse a Moro que ele tinha “27 superintendências” e que queria “apenas uma, a do Rio de Janeiro”.

Bolsonaro ainda disse que pode “ser surpreendido com notícias”. E continuou: “Pô. eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações: a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação.”

Depois desse encontro, ainda houve a exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, sem o consentimento de Moro, cujo guarda-chuvas também abrangia a corporação. Essa sequência de episódios culminou no pedido de demissão de Moro em 24 de abril, portanto, dois dias após a reunião ministerial.