Chefe da PF em Minas nega que Bolsonaro tenha cobrado aprofundamento do caso Adélio Bispo

Em depoimento, delegado Cairo Duarte afirmou que presidente não demonstrou insatisfação quanto às apurações

Foto: Marcello Casal Júnior / Agência Brasil

O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, delegado Cairo Costa Duarte, afirmou em depoimento que o presidente Jair Bolsonaro, ao ser informado sobre o andamento das investigações do caso Adélio Bispo, não demonstrou insatisfação quanto ao aprofundamento das apurações.

Após o pedido de demissão do ex-ministro Sérgio Moro, em abril, Bolsonaro reclamou, em pronunciamento, sobre suposta falta de aprofundamento das investigações relacionadas a Adélio, autor da facada contra o então presidenciável. O presidente acusou a PF de se preocupar mais “com Marielle do que com seu chefe supremo”. À época, no primeiro semestre do ano passado, um inquérito sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco já havia sido concluído e um outro, sobre supostos mandantes da facada, ainda era conduzido pela PF mineira.

De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, em depoimento, Duarte relatou que esteve duas vezes com Bolsonaro, uma delas recentemente e na presença do atual ministro da Justiça, André Mendonça, e o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza. O primeiro encontro ocorreu, segundo ele, no ano passado, com a presença de Moro e o então chefe da PF, Maurício Valeixo.

A reunião mais recente com o presidente ocorreu em meio à conclusão do segundo inquérito da PF, que relatou a ausência de mandantes no atentado conduzido por Adélio Bispo. De acordo com a investigação, o esfaqueador agiu sozinho. No âmbito judicial, Bolsonaro não apresentou recurso contra a sentença que considerou Adélio Bispo inimputável.

O delegado responsável pelos dois inquéritos relacionados ao caso Adélio Bispo, Rodrigo Morais Fernandes, relatou em depoimento que Bolsonaro participou de reunião na última sexta, em que foram apresentados os resultados da investigação, e não se mostrou contrariado com as apurações.

O relatório assinado por Fernandes apontou que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho em um crime sem mandantes. O delegado disse que também demonstrou a Bolsonaro os empecilhos jurídicos que barraram a apuração de uma das linhas de investigação. Por ordem do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), a PF não pode quebrar o sigilo do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defendeu Adélio Bispo. A intenção da PF era descobrir quem pagou os honorários do escritório da defesa. O caso aguarda análise no STF.

“A despeito disso, várias outras linhas de investigação foram traçadas e exauridas, inclusive apurando notícias veiculadas na imprensa e redes sociais que pudessem contribuir na investigação”, esclareceu o delegado.

Fernandes também destacou que os advogados que defenderam Bolsonaro no processo contra Adélio sugeriram diligências, “tendo sido acatadas pela autoridade policial e realizadas”. Fernandes afirmou ainda que teve plena liberdade para conduzir o caso sem ter havido “ordem ou sugestão de linha investigativa” por parte do superior hierárquico.