Pesquisa traça a rota do coronavírus no RS e aponta BR 116 como eixo inicial de dispersão

Casos de Covid-19 concentram-se diretamente no trecho onde estão as principais centralidades econômicas do Estado, criando uma rota rápida de dispersão do vírus

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Foto: Guilherme Almeida/Correio do Povo

O grupo de pesquisa “Covid-19 – Estudos Geográficos”, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), desenvolveu um mapeamento que demonstra as principais rotas de disseminação do vírus no território gaúcho.

A pesquisa tem como base três parâmetros. O primeiro refere-se à evolução diária dos casos, com base em informações disponibilizadas pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) referentes aos casos de Covid-19, o que demonstrou a formação dos eixos de dispersão do vírus desde o primeiro caso no município de Campo Bom e sua evolução até a presente data. O segundo parâmetro centra-se na hierarquia urbana do Estado, tendo em vista a existência de municípios que polarizam atividades econômicas diversas e, por conseguinte, possibilitam o processo de dispersão do vírus. O terceiro considera as principais rodovias do Estado, que possibilitam a ligação entre esses municípios e a metrópole regional Porto Alegre.

Com base nesses três elementos, ficou claro para o grupo que o Estado desenvolveu um primeiro eixo de dispersão do vírus que segue a BR 116, ligando a região Metropolitana de Porto Alegre à região Metropolitana da Serra gaúcha. Assim, os casos de Covid-19 concentram-se diretamente nesta área e, nesse eixo, estão as principais centralidades econômicas do estado, criando uma rota rápida de dispersão do novo coronavírus.

De acordo com um dos coordenadores do estudo e professor do Departamento de Geografia da UFPel, Tiaraju Salini Duarte, é possível entender como o vírus foi se espalhando. “Começamos a ver algumas características que o vírus vai tendo e mapeamos como as pessoas se deslocam no RS e entender o entorno de municípios-chaves como o vírus vai se espalhando”, explica.

Conforme Duarte, a região Sul do Estado tem uma estrutura territorial diferente do Norte. “Conseguimos visualizar que na porção Sul os casos do novo coronavírus ficam muito mais restritos dentro de um único município, ligado ao próprio espaço urbano, tendo em vista que as áreas rurais dessa região são pouco povoadas. Na porção Norte temos municípios menores, interligados em termos de dependência de serviço e comércio um do outro, o que possibilita uma maior dispersão do vírus”, diz.

Após a formação da principal área de concentração do Estado, os pesquisadores identificaram rotas secundárias através de rodovias que interligam o eixo primário de contaminação do vírus a municípios do interior que concentram maiores atividades econômicas e aglomerações populacionais. Todos os eixos de integração e dispersão da Covid-19 possuem capitais regionais e centros subregionais integrados diretamente pelas rodovias citadas ou indiretamente através de vias secundárias que possuem casos da doença.

Os caminhos

  • BR-386 conecta o eixo primário de dispersão do vírus à região de Lajeado e, ao norte pela BR-153, às regiões de Passo Fundo e Erechim;
  • BR-287 faz a ligação das regiões de Santa Cruz do Sul e Santa Maria à Região Metropolitana da Capital (RMPA);
  • BR-116 ao sul da RMPA, desenvolve a ligação com a região de Pelotas e Rio Grande;
  • BR-290 interioriza, no sentido Leste-Oeste, o Rio Grande do Sul, possibilitando ligações da RMPA com municípios como Uruguaiana e, através de rodovias secundárias, outras localidades, como Bagé. Já no sentido litoral, faz conexão com à BR-101 que, por sua vez, liga do eixo primário de dispersão do vírus com o Litoral Norte, tendo como principais cidades da região Capão da Canoa e Torres;
  • Confira no mapa abaixo:

Próximos passos

O grupo está debruçado sobre a estrutura da saúde no Rio Grande do Sul e a densidade demográfica total e de idosos, buscando demonstrar quais serão as áreas com maior pressão sobre o sistema de saúde caso a doença evolua. “Agora o nosso grupo fez um primeiro levantamento com a taxa de mortalidade de síndromes respiratórias. Essas doenças têm um aumento significativo nos próximos meses e já observamos que em anos anteriores os casos se agravam no inverno. Já temos uma estrutura de saúde complexa, e a situação vai ficar mais complicada nos próximos meses”, reitera Duarte.

“Nos próximos levantamentos vamos cruzar os dados de população idosa, taxa de envelhecimento, densidade demográfica de idosos. Conseguimos já visualizar algumas regiões que, caso ocorra um aumento progressivo da dispersão do vírus, terão problemas como aumento da taxa de mortalidade, como é o caso da região metropolitana da Serra gaúcha”, enfatiza o professor.

“Vamos tentar demonstrar quais são as regiões com maior risco para tentarmos pensar em políticas públicas efetivas. Todo o Estado tem que estar alerta, temos uma das maiores taxas de envelhecimento do país, com uma população idosa significativa, mas podemos tentar pensar essas áreas de maior risco”, reforça. Duarte destaca que a pesquisa poderá auxiliar na tomada de decisões por parte dos gestores.

Como prevenir o contágio do novo coronavírus 

De acordo com recomendações do Ministério da Saúde, há pelo menos cinco medidas que ajudam na prevenção do contágio do novo coronavírus:

Lavar as mãos com água e sabão ou então usar álcool gel.

Cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir.

Evitar aglomerações se estiver doente.

Manter os ambientes bem ventilados.

Não compartilhar objetos pessoais.