Remédio contra Aids é promissor contra Covid, mostra estudo da Fiocruz

Experimento realizado in vitro constatou que o medicamento atazanavir é capaz de inibir a replicação do novo coronavírus

coronavírus
Foto: Pixabay

Um remédio usado comumente no tratamento da Aids e fabricado em larga escala no Brasil revelou efeito promissor no combate à Covid-19 – superior mesmo ao da cloroquina, considerada eficaz pelos governos de Donald Trump, nos EUA, e de Jair Bolsonaro, em teste em vários países. É o que mostra uma pesquisa da Fiocruz.

O estudo realizado in vitro constatou que o medicamento atazanavir é capaz de inibir a replicação do novo coronavírus, além de reduzir a produção de proteínas ligadas ao processo inflamatório nos pulmões e, portanto, ao agravamento do quadro clínico da doença. Os especialistas também investigaram o uso combinado do atazanavir com o ritonavir, outro medicamento utilizado para combater o HIV.

Como se trata de uma substancia usada há muito tempo em segurança, o remédio pode ser testado em seres humanos imediatamente.

“A análise de fármacos já aprovados para outros usos é a estratégia mais rápida que a ciência pode fornecer para ajudar no combate à covid-19, juntamente com a adoção dos protocolos de distanciamento social já em curso”, disse o virologista Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), principal autor do estudo.

Considerando que trabalhos científicos anteriores já haviam apontado os inibidores de protease (substâncias que inibem a replicação viral) como promissores na busca de medicamentos para o novo coronavírus, os pesquisadores voltaram os olhos para o potencial de uso do atazanavir em particular.

Além de inibir a replicação viral, ele também age no trato respiratório, o que chamou a atenção dos cientistas na fase de seleção das substâncias colocadas sob investigação.

Os pesquisadores realizaram três tipos de análises: observaram a interação molecular do atazanavir com o vírus SARS-CoV-2, realizaram experimentos com essa enzima e testaram o medicamento em células infectadas, in vitro. Também foram realizados experimentos comparativos com a cloroquina, que vem sendo incluída em diversos estudos clínicos mundialmente. Neste caso os resultados obtidos apenas com o atazanavir e em associação com o ritonavir foram melhores que os observados com a cloroquina.

“Não se trata de uma competição; quanto mais substâncias promissoras, melhor”, frisou Moreno. “Se a cloroquina fosse 100% eficaz, não teríamos mais nenhuma morte por covid-19. Mesmo que ela seja aprovada como tratamento padrão, muita gente não vai poder usá-la, devido aos efeitos colaterais, então é sempre positivo termos alternativas”, completou.

A pesquisa, coordenada pelo CDTS/Fiocruz, envolve também cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) – incluindo os Laboratórios de Vírus Respiratórios e do Sarampo, de Imunofarmacologia, de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas, e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), além do Instituto DOr de Pesquisa e Ensino e da Universidade Iguaçu.