A estiagem dos últimos meses no Estado tem castigado a produção agropecuária catarinense. É o que aponta estudo elaborado pelas equipes da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/Cepa/Ciram). O levantamento apresentado às entidades do setor produtivo nesta semana revela que a falta de chuva tem causado grandes perdas na safra de verão (julho/2019 a abril/2020), especialmente nas lavouras de milho, feijão e batata, além de queda na produção de leite, devido à redução das pastagens.
É que as chuvas acumuladas dos meses de fevereiro e março foram abaixo da média mensal em quase todas as regiões do Estado. Segundo dados da Epagri/Ciram, as regiões do extremo-oeste, oeste, meio-oeste, vale do Rio Itajaí, planalto norte, planalto sul e Florianópolis serrana registram média acumulada inferior a 50 mm em março, o que é classificado pelos técnicos como anormalidade hídrica. Atualmente, Santa Catarina está com 22 estações hidrológicas em situação de estiagem, 10 delas na condição de emergência, 9 em alerta e 3 em atenção para estiagem. A situação mais crítica está nas regiões do extremo-oeste, oeste, meio oeste, planalto sul e alto vale do Rio Itajaí-Açu.
“Estamos em uma situação complicada e preocupante, que se agrava a cada dia devido à falta de previsão de chuvas significativas para o Estado. Nas regiões do meio-oeste, extremo-oeste, planalto sul e planalto norte, choveu 550 mm a menos que a média histórica para o período. No momento em que todas as atenções estão voltadas à pandemia do Coronavírus, não nos demos conta de que também estamos passando por uma forte seca que está reduzindo a nossa produtividade”, alerta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo.
Diante do grave cenário, a Faesc, por meio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), solicitou à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, um conjunto de propostas para que os produtores rurais possam superar os transtornos e os impactos causados pela pandemia do Coronavírus e agravados pela estiagem. Entre as prioridades está a prorrogação automática de todos os tipos de financiamento, principalmente custeio e investimento, sem que isso acarrete em mudanças na tributação ou em dificuldades de acesso ao crédito rural para a safra 2020/2021. Outro ponto foi a suspensão de qualquer tipo de procedimento em que o produtor precise ir ao cartório ou agência bancária.
A entidade também solicitou medidas tributárias: prorrogação do prazo de entrega e pagamento do Imposto de Renda Pessoa Física para 30 de junho; prorrogação do prazo de entrega das obrigações acessórias para pessoas jurídicas por 90 dias e diferimento do pagamento, por seis meses, do Programa de Regularização Tributária Rural (PRR); suspensão por seis meses das inscrições de operações na Dívida Ativa da União, e adiamento para julho dos pagamentos de tributos federais (PIS/Cofins e IPI) com vencimento em abril, maio e junho, sem incidência de juros e multa e parcelamento em três vezes.
NÚMEROS PREOCUPAM O CAMPO
Os números reforçam a preocupação da Faesc. De acordo com o relatório da Epagri, a estimativa de produção de milho da primeira safra é de 2,51 milhões de toneladas, 10% a menos que a obtida na safra 2018/19 no Estado. Para o milho de segunda safra e grão total, a área estimada de produção é de 15 mil hectares, o que representa uma retração de 7,4% em relação à safra anterior. A expectativa é que as áreas de safrinha também sejam fortemente impactadas pela estiagem. Segundo o estudo, alguns municípios já relatam produtividades até 20% menores em relação ao ano anterior. Para o milho silagem é esperada uma redução de 0,6% na produção, fechando em 9 milhões de toneladas.
O mesmo acontece com outras culturas. O feijão da primeira safra deve encerrar com queda de 3,35%, alcançando 60,6 mil toneladas do grão. A estimativa da Epagri é que as áreas da segunda safra – 37% da produção total do Estado – sejam fortemente impactadas pela falta de chuva. Alguns municípios relatam produtividades de 20% a 50% menores em relação ao ano anterior, o que pode apresentar variação final negativa de 6,68% na produção e 5,04% na produtividade em relação à safra 2018/19.
O maior impacto é sentido nas plantações de batata, onde a produção deve diminuir 34% em relação ao ano anterior, chegando a 72 mil toneladas. Os prejuízos na produção de soja são menores. Cerca de 70% das lavouras catarinenses de soja já foram colhidas e devem ter uma queda de apenas 0,9% na produção devido a um aumento na produtividade nas regiões de Chapecó, São Miguel do Oeste e Canoinhas e pelo aumento de mais de 15 mil hectares na área plantada em todo o Estado. Mesmo assim, as regiões que estão com a colheita em andamento estimam perdas de até 30% da produtividade, o que pode mudar os números do grão no final da safra. A produção de fumo também deverá ser reduzida em -1,13% nesta safra.
LEITE
Existe uma preocupação também com o setor leiteiro. Os meses de abril e maio são, historicamente, os períodos de menor oferta, o que se acentuou neste ano pela estiagem. A falta de chuvas está prejudicando a quantidade e a qualidade das pastagens, o que impacta diretamente no aumento dos custos de produção de leite.
De acordo com vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri, a falta de chuva destruiu as pastagens e os produtores já não estão conseguindo bancar os altos custos da ração à base de milho.
“Os produtores precisam urgentemente equilibrar seus ganhos aos custos de produção para a situação não se agravar ainda mais”, sublinha Barbieri.
PECUÁRIA
Segundo informações da Epagri/Cepa, até o momento, não há relatos de perdas diretas na produção de suínos e aves decorrentes da estiagem. Em alguns municípios, os produtores estão sendo atendidos com caminhões pipa, porém a grande maioria dos suinocultores e avicultores possuem estruturas de armazenagem de água, o que dá maior segurança para o sistema de produção e reduz a necessidade de abastecimento complementar.
Na produção de bovinos de corte se observa uma gradativa piora na qualidade das pastagens em função do baixo volume de chuvas e das elevadas temperaturas. Esse processo normalmente reduz o ritmo de ganho de peso dos animais criados à base de pasto ou demanda a utilização de alimentação suplementar, o que eleva os custos de produção.