O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou que a quarentena obrigatória no país, iniciada no dia 20 de março, se estende pelo menos até 13 de abril. O pronunciamento ocorreu na noite desse domingo, após Fernández ter se reunido com especialistas da área médica e científica e com todos os governadores do país. Hoje, ele considerou que a estratégia do colega brasileiro, Jair Bolsonaro, diante da pandemia pode levar o principal sócio comercial a uma espiral de contágios.
“Complicado e lamento muito que não entenda a dimensão do problema”, disse à Radio con Vos ao ser questionado sobre o pedido de Bolsonaro aos brasileiros para que retomem as atividades normalmente.
A Argentina compartilha com o Brasil uma fronteira de cerca de 1,1 mil km de extensão e é o principal destino das exportações do país vizinho. “O Brasil é 70% do Produto Bruto sul-americano e nosso principal parceiro econômico”, destacou Fernández.
“Temo que com essa lógica (o Brasil) entre na mesma espiral (de contágios) da Espanha, Itália ou Estados Unidos, que quando declararam a quarentena já era tarde”, enfatizou.
Bolsonaro afirmou no domingo que “o Brasil não pode parar”, em discurso oposto ao do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que havia ressaltado a importância do isolamento social na luta contra a doença. Na opinião de Bolsonaro, quem “não morrer da doença, morre de fome”.
Fernández afirmou que um parecer do comitê de especialistas e doenças infecciosas, consultado por ele, indicou que era “necessário continuar com as restrições para impedir a propagação geométrica de infecções”.
“Somos um caso único no mundo, propusemos a quarentena plena assim que se soube do início da pandemia. Portanto, estamos experimentando durante o caminho”, disse o presidente.
Fernández afirmou que o Estado vai se fazer presente para garantir a chegada dos alimentos aos setores mais vulneráveis. E pediu à população que continue cumprindo a quarentena e cuide dos mais idosos.
“Depois de 10 dias [do início da quarentena], temos que estar muito felizes por sermos argentinos”, disse Fernández, ressaltando que 90% da população cumpriu o isolamento social, preventivo e obrigatório. Segundo ele, os argentinos que descumpriram a quarentena foram processados penalmente.
O presidente argentino ressaltou que reforçar as medidas de proteção da saúde não significa um descuido com a economia e lembrou as medidas tomadas nos últimos dias para reduzir o impacto econômico na vida das famílias mais pobres, de pequenos e micro-empresários.
“Uma economia que cai sempre levanta, mas uma vida que termina, não levantamos mais.”
Fernández disse ainda que está trabalhando para obter os suprimentos necessários para retardar o avanço da pandemia. E pediu que todos entendam que estão vivendo um momento de exceção.
O presidente afirmou que vai ser duro com os empresários que demitirem funcionários e pediu ao setor que aceite “ganhar menos” durante a pandemia. “Aqui ninguém se salva sozinho”, disse. “Em tal crise, não podemos abandonar alguém e deixá-lo sem emprego. Aqui, para muitos empresários, trata-se de ganhar menos, não perder.”