Morte de bebê em hospital de Gravataí é investigada

Segundo o proponente da CPI, duas mortes semelhantes aconteceram em 2019 e 2018

A assessoria do Grupo Hospitalar Santa Casa, informou que uma nota oficial será divulgada nesta segunda-feira. | Foto: Fernanda Bassôa / Especial / CP

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Câmara de Vereadores de Gravataí para apurar as circunstâncias da morte de um bebê no Hospital Dom João Becker, onde a mãe foi atendida em trabalho de parto, no início deste mês. Serão averiguadas a suposta demora na realização do procedimento, indução ao parto normal e suspeita de atos de negligência. O proponente da CPI, vereador Bombeiro Batista, diz que tem o relato da mãe e que, a partir desta segunda-feira, vai chamar funcionários e médicos do hospital para serem ouvidos. “Faremos oitivas e acareações. Além disso, vamos pedir o prontuário médico completo, imagens das câmeras de vigilância e o afastamento da equipe que realizou o parto, para não atrapalhar as investigações”, coloca Batista.

O vereador diz que duas mortes semelhantes aconteceram em 2019 e 2018 e afirma que a prefeitura deve rever algumas cláusulas do contrato com o grupo gestor do hospital. Audiência pública ocorre nesta quarta-feira, às 18h30min, na Câmara. “Possivelmente outras informações importantes poderão ser inseridas no relatório da Comissão. Precisamos ouvir a população”, avisa. A CPI tem prazo de 90 dias, podendo ser prorrogável por mais 90.

O pai do bebê, Marcel Paulo Merigo Peçanha, diz que Theo não apresentou nenhum problema durante o pré-natal. “Esperaram 27 horas para fazer a cesárea porque a equipe médica queria fazer parto normal, induzido. Minha esposa chorava de dor, minha sogra suplicava pela cesárea e chegou a dizer que pagaria pelo particular. Infelizmente, meu filho nasceu sem vida. É muito dolorido esse momento”, relata. Segundo ele, a família luta por justiça. “Quantos mais bebês ou mães terão que morrer para alguém tomar alguma providência?”, questiona.

O titular da 1ª Delegacia de Polícia de Gravataí, Marcio Zachello, diz que investiga dois casos. “As histórias são bem semelhantes. As mães aguardam muito tempo para dar à luz e, quando há a intervenção médica, os bebês estão sem vida. Em ambos os casos, as mulheres relatam demora excessiva”, diz. Segundo o delegado, a equipe médica ainda não foi ouvida, mas um dos prontuários já está com a Polícia Civil. “É muito cedo para afirmar o que pode ter acontecido. Precisamos ouvir médicos, enfermeiros e técnicos. Todas as provas serão coletadas e encaminhadas para o Instituto-Geral de Perícias, que deve apontar se houve conduta dolosa ou culposa”, explica.

A prefeitura informa que contrata os serviços do hospital de acordo com a capacidade física e técnica na estrutura, que abrange serviços como atendimento de urgência e emergência, procedimentos cirúrgicos e atendimento obstétrico. Segundo o secretário de Saúde, Jean Torman, é lamentável o episódio que ocorreu com a família e o bebê que faleceu, mas, segundo ele, o fato não tem relação com o que é contratado entre a prefeitura e o hospital. “Esse contrato prevê o que é recomendado pelo Ministério da Saúde. A orientação é de que se tenha e se estimule uma política nacional de realização de partos normais, especialmente para as gestações que tiveram pré-natal adequado, pois é o mais saudável para a criança e a mãe. A decisão de realizar um parto normal ou com cirurgia é técnica, tomada pelo profissional médico que está no atendimento da gestante na hora do parto. Cabe somente a ele tomar a decisão técnica mais adequada a cada caso de acordo com as condições clínicas da mãe e do bebê”, argumenta.

Torman explica que o contrato é feito em conjunto por profissionais da área da saúde, administradores do hospital e da Secretaria da Saúde, a fim de prestar o melhor serviço à comunidade. A assessoria do Grupo Hospitalar Santa Casa, que gerencia os atendimentos no Hospital Dom João Becker, informou que uma nota oficial será divulgada nesta segunda-feira.