Denúncias de assédio fazem aplicativos apostarem em corridas “de mulher para mulher”

Parte das modalidades ainda não pode ser acessada em Porto Alegre

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Foto: Eric Raupp / Especial / CP

Em um cenário de violência urbana e denúncias de assédio de motoristas de aplicativos contra mulheres, as plataformas decidiram criar alternativas para manter o público feminino dos apps, que é de aproximadamente 50%. Em iniciativa pioneira, a Uber anunciou um projeto para incentivar que mais mulheres façam parte do rol de motoristas da empresa.

Após ser testado em três cidades-piloto, Porto Alegre é a primeira capital brasileira escolhida para receber a expansão do programa. Criado em parceria com a Rede Mulher Empreendedora para aumentar e fortalecer a comunidade de motoristas parceiras da Uber no Brasil, o projeto vai contemplar tanto mulheres que já dirigem usando o aplicativo como aquelas que ainda não se cadastraram.

Conforme Atalija Lima, gerente de comunicação da Uber, o programa abrange medidas como atendimento voltado para as mulheres e ferramenta que determina escolha por transportar somente mulheres no veículo. “Olhando para a nossa base de dados, existe uma diferença muito grande entre motoristas parceiros homens e mulheres. Hoje são somente 6% de mulheres”, ressalta.

“O programa é voltado à educação financeira. Outro pilar é o suporte através de atendimento exclusivo para mulheres, de mulher para mulher. Outro é o da segurança, ferramenta exclusiva para que passem a receber chamadas de usuárias mulheres”, complementa.

Já a 99, empresa brasileira de transporte urbano que integra a companhia global DiDi Chuxing, também registra um total de mulheres condutoras muito abaixo da representatividade delas no País. A base de motoristas no app representa 15% do total de condutores. A meta da empresa é aumentar esse percentual de parceiras cadastradas na plataforma com o 99Mulher, funcionalidade lançada em fase-piloto em Fortaleza, Manaus, Belém, Teresina, Santos, Campinas, Goiânia e Recife. A modalidade possibilita que as motoristas optem por serem conectadas apenas a passageiras, mas ainda não há prazo para disponibilização em Porto Alegre.

Já o Garupa, aplicativo gaúcho de viagens, lançou em outubro um serviço focado no público feminino. A usuária pode priorizar motoristas mulheres ou solicitar corridas somente com elas. A configuração permite ser alterada quando necessário. O CEO Marcondes Trindade ressalta que as mulheres, ao se cadastrarem no app como usuárias, escolhem entre chamar somente ou, preferencialmente, condutoras. “As usuárias se sentem mais confortáveis”, admite.

Outras grandes empresas como a Cabify também possuem a funcionalidade. As empresas admitem que ao solicitar que apenas mulheres sejam as motoristas, o tempo de espera pode ser maior.

Motorista há três anos das plataformas Uber, 99 e BlablaCar, Sirlei da Silva conta que já ouviu algumas passageiras relatando casos de assédio. Já ela toma medidas de segurança como pegar usuários somente na residência e evitar a entrada no veículo de pessoa diferente da que chamou o app. “Agora há medidas mais seguras para quem trabalha à noite e de manhã cedo, mas cuidados redobrados sempre”, justifica.

Há também iniciativas como o Lady Driver, Venuxx e FeminiDriver, exclusivas para as motoristas e passageiras, nenhuma delas em operação em Porto Alegre. Segundo Gabriela Correa, idealizadora do serviço Lady Driver, a ideia surgiu depois que ela passou por uma situação de assédio em um táxi. O app teve o funcionamento aprovado pela Prefeitura de São Paulo em março de 2016.

Pela Lady Driver, apenas mulheres podem dirigir e solicitar corridas. Homens podem ser acompanhantes, mas nunca solicitar corridas ou dirigir pelo aplicativo.