Laudo revela que dois tiros mataram miliciano na Bahia

Ex-PM disse a advogado e parentes, na semana passada, que que tinha "certeza" de que queriam matá-lo para "queimar arquivo"

Foto: Reprodução / R7

Dois tiros mataram o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o ‘capitão Adriano’, revelou nessa quarta-feira o laudo necroscópico do Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Bahia. O corpo do ex-PM tinha duas perfurações por arma de fogo: uma entre o pescoço e a clavícula, e outra no tórax. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Ainda nessa quarta, o promotor de Justiça Dário Kist afirmou que uma investigação foi aberta para apurar as circunstâncias da morte de Adriano. O miliciano ligado ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), foi morto por policiais, no último domingo, no município de Esplanada, após um trabalho de cooperação com a Polícia Civil do Rio.

“Existem indícios. O Ministério Público entende que houve resistência porque o escudo que a polícia utilizava foi alvejado. Isso reflete, em linha de tese, indícios de que houve resistência”, citou o promotor. Segundo ele, não há nada que indique que não houve resistência. “Ao ser abordado, anunciado o mandado de prisão, resistiu”, relatou.

Questionado sobre se a Promotoria está certa de que a narrativa da polícia é verídica, o promotor preferiu não cravar uma conclusão sobre a morte do ex-PM.

“É uma situação que não podemos responder nesse momento. Na sequência dos episódios, tão logo ocorreram, os peritos estiveram no local e no dia”, ressalta. “Eu não posso afiançar nem que sim, nem que não”, afirmou, dizendo que o laudo a ser apresentado vai comprovar o que houve.

Segundo o promotor, os policiais que participaram da ação prestaram depoimento e disseram que Adriano Magalhães de Nóbrega reagiu a tiros ao anúncio do mandado de prisão.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, foram apreendidos 13 celulares, uma pistola, um revolver e duas espingardas no imóvel na zona rural do município de Esplanada, onde Adriano foi encontrado e morto.

O miliciano era um dos alvos da investigação sobre suposta ‘rachadinha’ no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, à época em que o filho do presidente Jair Bolsonaro esteve na Assembleia Legislativa do Rio.

Além de ter sido indicado pelo então deputado à mais alta honraria do Rio, a Medalha Tiradentes, ele manteve no gabinete do parlamentar a mulher e a mãe, que chegaram a ter o sigilo quebrado no inquérito do caso Queiroz. Suspeito de chefiar o ‘escritório do crime’, a milícia suspeita de participar do assassinato da vereadora Marielle Franco, ele não resistiu após suposta troca de tiros em uma operação policial para capturá-lo, no domingo.

Entenda o caso

O advogado Paulo Emilio Catta Preta, que defendia Adriano, afirmou ter recebido uma ligação do cliente na quarta-feira retrasada. O ex-PM disse que que tinha “certeza” de que queriam matá-lo para “queimar arquivo”. A viúva do miliciano também forneceu o mesmo relato.

Após a morte, Mônica Benício, viúva da ex-vereadora Marielle Franco, e o PSol, cobraram explicações sobre a morte de Adriano. O partido vai pedir uma audiência com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para cobrar esclarecimentos sobre o caso.

O capitão Adriano era considerado foragido desde a Operação Os Intocáveis, deflagrada em janeiro de 2019, contra uma milícia que atua em Rio das Pedras, comunidade pobre da Barra da Tijuca. De acordo com a Promotoria do Rio, o grupo agia na grilagem de terras, na compra, venda e aluguel irregular de imóveis, na cobrança de taxas da população local e na receptação de mercadoria roubada, entre outros crimes.

A Receita Federal chegou a fazer uma parceria com a Promotoria do Rio para compartilhar dados fiscais colhidos na operação, com o fim de também elucidar o suposto esquema de desvio de salários do gabinete de Flávio Bolsonaro.

A mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, trabalhou com o então deputado de 6 de setembro de 2007 a 14 de novembro do ano passado. Já a mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, esteve lotada no mesmo gabinete de 11 de maio de 2016 também até 14 de novembro de 2018. Ambas recebiam salário de R$ 6.490,35. Raimunda é citada no relatório do Coaf que investiga corrupção no Legislativo fluminense. Ela repassou R$ 4,6 mil para a conta do também assessor de Flávio, Fabrício Queiroz.

Quando o Ministério Público Estadual do Rio pediu a quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro e dos assessores, na lista dos alvos apareciam os nomes de Raimunda e Danielle, ambos marcados em negrito no documento, para ressaltar o elo com o miliciano.

Em dezembro, o MP do Rio concluiu que o Capitão Adriano era beneficiado pelo dinheiro do suposto esquema de ‘rachadinha’ que existia no gabinete de Flávio Bolsonaro. Os promotores chegaram a essa conclusão depois de analisar conversas via WhatsApp e dados de transações financeiras do ex-PM.

Adriano foi homenageado por Flávio em 2003 e 2004 na Assembleia Legislativa pela atuação como policial. Tanto o senador, quanto o então homem de confiança dele, Fabrício Queiroz, tinham a mesma versão sobre a nomeação. Queiroz afirmou que ele mesmo quem indicou a contratação da mãe e da mulher de Adriano, ex-capitão do Bope, para o gabinete de Flávio.

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