Com três indicações ao Oscar, “Dois Papas” dá luz a falta de tolerância, considera Meirelles

Diretor revela que a agenda política adotada pelo Papa Francisco foi fator determinante para gravar o longa

Fernando Meirelles durante as filmagens de Dois papas. Foto: Netflix/Divulgação

Com três indicações ao Oscar, o filme “Dois Papas” consolidou-se como sucesso de público e crítica. O longa que extrapolou os muros do Vaticano usa com principal pano de fundo os diálogos e a relação entre Joseph Ratzinger e Jorge Mario Bergoglio, além das mudanças comportamentais da sociedade. Autor da obra, o diretor brasileiro Fernando Meirelles considera que a principal reflexão do filme se refere à tolerância ou à falta dela.

“O filme tem vários temas, mas para mim o tema que me fala é sobre tolerância. Estes dois padres discordam em praticamente tudo, pois a igreja é muito dividida, assim como o Brasil e o mundo todo, mas eles precisam encontrar um chão comum. O filme é sobre um tentando escutar o outro e seu ponto de vista. Acho que é uma mensagem que está faltando muito, principalmente no Brasil”, salienta.

Na última sexta-feira, Meirelles gravou entrevista para o programa Esfera Pública. Na ocasião, ele considerou como muito pequenas as chances de premiação no Oscar. Em mais de 30 minutos, o cineasta falou sobre a produção, gravação e repercussão de “Dois Papas”. Também comentou o atual cenário cultural e político do Brasil. Para Fernando Meirelles, a agenda política adotada pelo Papa Francisco foi determinante para tirar o filme do papel.

“Meu interesse no filme e no Papa Francisco é muito mais a agenda política dele. A importância que ele tem como líder mundial. Ele é o cara que está tentando construir pontes entre religiões, países e refugiados, enquanto todo mundo está com essa besteira de nacionalismo. O mundo está nessa onda de nacional populista. Fechar fronteiras ou por um país na frente do outro é o caminho para acelerar a destruição do planeta”, adverte.

Sobre o espectro político de Francisco, o diretor também criticou os rótulos de que o Papa tenha inclinação para as bandeiras de esquerda. “É uma bobagem chamar ele de comunista. O Papa tem uma agenda voltada para os pobres excluídos”, considera.

Durante entrevista, Meirelles também revelou que o aquecimento global vai ser a pauta central do próximo trabalho dele. Crítico da política adotada pelo governo federal, o cineasta também reprovou veementemente quem relativiza o aquecimento global ou insinua a que a Terra é plana. “O aquecimento global não pode ser colocado em xeque”, reforça.

Nesta segunda-feira, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou os indicados ao Oscar 2020. Fernando Meirelles vai disputar a categoria de “Melhor Roteiro Adaptado” e Jonathan Pryce, que interpreta Francisco, e Anthony Hopkins, no papel de Ratzinger, disputando as categorias de “Melhor Ator” e “Melhor Ator Coadjuvante”.