Ouvidoria pede afastamento de policiais que atuaram em Paraisópolis

Comandante da PM confirmou que agentes devem ser colocados em serviços administrativos, no mesmo horário de trabalho

Foto. Reprodução Record TV

A Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo solicitou que os policiais militares envolvidos na ocorrência que terminou com nove mortes em Paraisópolis sejam afastados do serviço operacional de rua. O pedido consta em ofício encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar, que também apura as circunstâncias do caso.

“A ocorrência foi desastrosa, pois acabou com tamanho número de mortes. A improvisação e a precipitação podem ter contribuído, direta ou indiretamente, para as mortes dessa tragédia”, disse o ouvidor Benedito Mariano nesta segunda-feira. Segundo ele, o pedido é preventivo e visa a realocar os agentes para serviços administrativos enquanto a investigação do caso é realizada.

O afastamento só pode ser determinado pelo comando da Polícia Militar, “Eles foram preservados. Continuarão nas unidades em serviços administrativos no mesmo horário, fazendo outras coisas”,  revelou o comandante-geral, coronel Marcelo Salles.

O ouvidor reforçou que testemunhas do caso podem procurar o órgão para relatar eventuais abusos por parte dos agentes. “Os depoimentos serão encaminhados para o DHPP e para a Corregedoria, solicitando que os termos sejam anexados aos procedimentos apuratórios conduzidos pelos dois órgãos, o que pode ser uma contribuição importante para as investigações”, disse Mariano.

“Uso moderado da força”, dizem policiais em depoimento

Neste domingo, seis policiais militares da Força Tática do 16º Batalhão prestaram depoimento no 89º DP (Portal do Morumbi). Ao delegado, eles repetiram versões similares. Foram acionados para apoiar uma diligência de averiguação a um veículo modelo Celta de cor preta, mas o carro não chegou a ser encontrado. Durante o deslocamento pela avenida Hebe Camargo, na altura do cruzamento com a Rua Rudolf Lutze, ocupantes de uma moto, ao verem os policiais, efetuaram diversos disparos e adentraram na multidão que fazia parte do baile funk.

Os disparos, contaram os policiais, iniciaram uma confusão generalizada. “Em seguida, as equipes passaram a ser hostilizadas pelos frequentadores do baile funk que arremessaram garrafas, pedras e madeira na direção dos policiais”, declarou um dos agentes à polícia. Eles, então, tentaram sair do local, mas se depararam com duas viaturas danificadas pelo tumulto. “Desembarcaram para prestar apoio, no entanto havia um grande número de pessoas descontroladas, sendo necessário uso moderado da força com emprego de cassetete e munição química pelos policiais da Força Tática, do Comando 01 e 02 para dispersar a multidão.”

Os policiais não relataram ter visto diretamente a confusão que levou à morte das nove pessoas. Disseram apenas que receberam a informação que havia vítimas desacordadas em uma viela da rua Ernest Renan e acionaram o resgate. “Informa ainda que não efetuou nenhum disparo de arma de fogo durante o ocorrido, também não viu nenhum de seus colegas fazê-lo”, descreveu o boletim de ocorrência sobre o depoimento de um dos deles.

A Polícia Civil informou no documento que uma adolescente de 16 anos ficou ferida por um disparo de arma de fogo na perna. Ela recebeu atendimento no Hospital do Campo Limpo, mas até a tarde do domingo o projétil ainda não havia sido retirado. A polícia solicitou que o objeto passe por perícia. As armas dos policiais foram apreendidas para posterior exame balístico.