Evo pede que servidores voltem ao trabalho e chefe da polícia renuncia

Ex-presidente disse estar fazendo pedido "na condição de ser humano"

Evo Morales
Foto: Facebook/Governo da Bolívia

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que renunciou ao cargo nesse domingo, pediu aos servidores públicos do país que “voltem a prestar serviços à população”, em post publicado no Twitter na tarde desta segunda-feira.

“Já não como presidente, e sim e minha condição de ser humano, peço aos trabalhadores de saúde e educação que voltem a prestar serviços à população, após tantas greves e paralisações. Acima de posições políticas, têm a missão de cuidar com cordialidade e solidariedade do povo”, escreveu.

Chefe da polícia renuncia

Também nesta segunda-feira, o chefe da polícia boliviana, Yuri Calderón, renunciou ao cargo, segundo a imprensa local. O jornal La Razón publicou que Calderón deixou a função após “pressão das bases e do Estado”.

Ontem, Calderón negou ter entrado com um mandado de prisão contra Evo Morales após a renúncia de Morales, e esclareceu que é o Ministério Público e não a polícia quem emite as ordens.

Violência

Já a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), expressou preocupação sobre a crise política e a situação dos direitos humanos na Bolívia.

Segundo dados citados pela CIDH em comunicado, três pessoas morreram, 421 ficaram feridas e 222 foram presas após as eleições de 20 de outubro, que tiveram suspeitas de fraude e desencadearam uma onda de protestos contra o governo.

Nesse domingo, Evo Morales e outros três políticos na linha sucessória da Bolívia renunciaram.

A suspeita de fraude também resultou na prisão da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da Bolívia, Maria Eugenia Choque, e do vice-presidente da Corte, Antonio Costas.

Evo Morales, que se tornou o primeiro presidente indígena da Bolívia, esteve no poder por 13 anos e nove meses, o mandato mais longo da história do país sul-americano.

Vazio político

A renúncia de Evo, após três semanas de protestos, deixa um vácuo de poder na Bolívia, onde no momento ninguém sabe quem comanda o país. A Constituição prevê que a sucessão comece com o vice-presidente, depois passe para o titular do Senado e, em seguida, para o presidente da Câmara. Todos, porém, renunciaram.

As renúncias do vice-presidente Álvaro García, da presidente e do vice-presidente do Senado, Adriana Salvatierra e Rubén Medinacelli, e do titular da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, criaram portanto uma situação de incerteza e vazio sobre a cadeia de sucessão constitucional.

Nesse cenário, a segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou o direito de assumir a presidência da Bolívia. Em tese, cabe ao Legislativo escolher um novo presidente do Senado, para que possa acatar a renúncia de Morales e dar início ao processo de novas eleições.