Itamaraty interrompe discurso de deputada gaúcha na ONU, em Genebra

Fernanda Melchionna (PSol) tentou listar violações de direitos humanos cometidas pelo Brasil a fim de provar que o governo não vem fazendo esforços nesse sentido

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A delegação do Ministério brasileiro das Relações Exteriores impediu a deputada federal Fernanda Melchionna (PSol-RS) de prosseguir discursando, nesta quinta-feira, durante reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça. A responsabilização de multinacionais pela violação a direitos humanos era o tema do encontro.

Ao falar, a deputada criticou o governo do presidente Jair Bolsonaro. A comitiva do Itamaraty começou, então, a bater repetidamente, nas mesas, as placas de identificação do país a fim de chamar atenção da presidência da sessão, que, então, interrompeu o discurso. O gesto ocorreu no momento em que Melchionna dizia que o governo brasileiro era um país perigoso para ativistas e defensores de direitos humanos e, por isso, não merecia um assento no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Mais tarde, em uma sessão separada, Brasil e Venezuela foram eleitos para integrar o colegiado.

“Os diplomatas reagiram de forma descontrolada, pois não queriam escutar a verdade: apesar de o povo merecer, o governo Bolsonaro não merece um assento no Conselho de Direitos Humanos da ONU com um presidente que elogia torturadores e exalta a ditadura militar. Triste e indignante perceber que a estratégia diplomática do nosso país é a censura e o silenciamento de uma mulher eleita para representar o povo”, lamentou.

A parlamentar também defendeu que o governo se dedique a resolver os problemas graves, como a falta de responsabilização pelos crimes ambientais da Vale, em Brumadinho, e solucionar o caso sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. “Até hoje, lutamos por justiça para Marielle. Um ano e 7 meses e ainda não temos respostas do governo brasileiro”, disparou a deputada.

Discurso

Durante a primeira parte do discurso, Fernanda Melchionna denunciou o excesso de poder das corporações transnacionais que, mundo afora, segundo ela, vêm destruindo recursos naturais e desmantelando políticas públicas de saúde e educação. A parlamentar citou episódios envolvendo as empresas Chevron, no Equador, Monsanto, em El Salvador, e a Vale, em Mariana e Brumadinho, além de casos de empresas farmacêuticas em diversos países da América Latina e África.

Já na segunda parte, interrompida pelo Itamaraty, Melchionna tentou listar violações de direitos humanos cometidas pelo Brasil a fim de provar que o governo não vem fazendo esforços nesse sentido. “Não houve consulta às comunidades quilombolas, impactadas pelo uso da base militar de Alcântara, que viola a Convenção 169. Há até uma denúncia feita pelos quilombolas aqui na ONU. Se falarmos de povos indígenas, vários povos indígenas tiveram suas terras e sua própria existência ameaçadas pela ameaça da mineração por parte das transnacionais, com o conluio do governo brasileiro”, alertou.

A convite de movimentos sociais, Fernanda Melchionna participou da 5ª sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental de Composição Aberta, encarregado de desenvolver um Tratado Vinculante das Nações Unidas a fim de evitar que o poder exagerado de empresas transnacionais viole Direitos Humanos em todo o mundo.