PF vê indícios de que líder do governo e filho receberam R$ 5,5 milhões de forma ilegal

Bezerra Coelho (MDB-PE) colocou o cargo à disposição

Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado

Alvos da Operação Desintegração, nessa manhã, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, e o filho dele, o deputado Fernando Bezerra Filho (DEM-PE), receberam supostos R$ 5,538 milhões em vantagens indevidas de quatro empreiteiras. Os indícios foram levantados pela Polícia Federal (PF). Os números são citados na decisão em que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou buscas e apreensões nos gabinetes de ambos.

Na mesma decisão, porém, o ministro negou o sequestro e indisponibilidade de bens no valor total dos supostos repasses. Ele considerou as medidas “apressadas neste estágio da investigação”. A medida também havia sido pedida pela PF.

A decisão de Barroso que autorizou as buscas decorre de um inquérito aberto em consequência da Operação Turbulência, que apurou o acidente aéreo que resultou na morte, em 2014, de Eduardo Campos, então candidato do PSB à Presidência.

Delação

Em delação premiada, o empresário João Carlos Lyra e os operadores financeiros Eduardo Freire Bezerra Leite e Arthur Roberto Lapa Rosal relataram ter participado do repasse sistemático aos parlamentares de recursos das empreiteiras OAS S.A, Barbosa Mello S.A, S.A Paulista e Constremac Construções S.A.

Os repasses foram supostamente realizados entre 2012 e 2014. Neste período Bezerra chegou a ocupar o cargo de ministro da Integração Nacional no governo de Dilma Rousseff.

Segundo a decisão de Barroso, a PF apontou que as vantagens indevidas foram solicitadas “diretamente em função” do exercício político do senador. Ele tinha o poder de encaminhar obras públicas de interesse das empreiteiras envolvidas. Entre elas está a transposição do rio São Francisco e o chamado Canal do Sertão, empreendimento hídrico em Alagoas.

A movimentação era ocultada por meio do uso de laranjas, notas frias e empresas de fachada, por exemplo. O dinheiro também pagou dívidas de campanha, segundo as investigações.

Além das colaborações premiadas e depoimentos, Barroso apontou que, para embasar a investigação, a PF obteve registros de transações de recursos. Além disso, fotos ligando os investigados, registros de ligações telefônicas, comprovantes de viagens aéreas, informações da Receita Federal e inclusive uma gravação de áudio.

“Há, assim, diversos indícios da prática de crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro”, escreveu o ministro.

Cargo à disposição

Em uma entrevista na entrada do prédio onde mora, em Brasília, Bezerra Coelho informou que colocou o cargo de líder do governo à disposição.

Defesa

O advogado Arthur Callegari, que representa o senador, ressaltou que as medidas de busca e apreensão contra Bezerra Coelho e o filho tiveram parecer contrário da Procuradoria-Geral da República (PGR), que as considerou desnecessárias, causando “estranheza” que Barroso tenha autorizado as diligências pedidas pela PF, escreveu o advogado.