Chuva escura surpreende moradores em Camaquã e Encruzilhada do Sul

MetSul Meteorologia relaciona fenômeno com queimadas na floresta Amazônica

Foto: Adelaide Bukoski Langassner / Arquivo de Fotos / CP

Moradores de Encruzilhada do Sul e Camaquã, na metade Sul, demonstraram surpresa com a precipitação de chuva turva nos municípios nesta terça e quarta-feira. Relatos foram registrados por moradores das duas cidades nas redes sociais, junto com imagens e vídeos mostrando a cor escura da água.

A professora de geografia Adelaide Bukoski Langassner, de 52 anos, conta que colocou recipientes na área externa de casa para coletar água fazer a limpeza de tapete. “Parecia saído de um açude”, narrou a moradora de Encruzilhada do Sul.

O fenômeno, de acordo com a MetSul Meteorologia, pode ser relacionado à presença de material particulado originário da queima de biomassa em decorrência das queimadas na floresta Amazônica: o carbono negro se precipita em companhia da água e dá o aspecto turvo. Uma imagem de satélite da manhã desta quarta mostra ampla e densa pluma de fumaça no interior da América do Sul, descendo da região amazônica até o Sul do Brasil, onde encontra a barreira de um sistema frontal.

Pelas redes sociais, Adelaide viu usuários comentando sobre o mesmo fenômeno na cidade vizinha de Camaquã, que fica a pouco mais de 100 quilômetros de distância. O biólogo da secretaria de Meio Ambiente da cidade, Rafael Sofia, disse ter tomado conhecimento das postagens, mas que não teve registro de nenhuma reclamação direta. “Pode ser algo relacionado com as queimadas, mas não temos dado ou informação que possa nos dizer com certeza. É preciso uma averiguação científica”, afirmou Sofia. Ele garante que vai ficar atento à situação para esclarecer qualquer questão relacionada ao ocorrido.

A meteorologista Estael Sias explica que a precipitação com fuligem é comum, ainda que possa causar espanto em algumas pessoas. “Quando a atmosfera está suja, o que limpa é a chuva. Então, o que ocorreu mostra que a atmosfera está com essas fuligens da região amazônica. Áreas do norte, onde a chuva está longe, como Erechim, Iraí, estão com uma fumaça presente porque não houve essa limpeza”, explica. “Isso é normal. O produtor agrícola precisa fazer queimadas para limpar as lavouras, mas às vezes está muito seco. No centro do país há áreas em que não ocorre precipitação há cem dias. Umidade baixa e vento forte fazem ampliar essas queimadas e com que haja um descontrole da proporção”.