Os impactos da agricultura convencional, que acarreta no consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos, foram abordados na tarde dessa segunda-feira em debate com o professor Sebastião Pinheiro na Expointer. Com a proposta de repensar o modo atual de produzir, Pinheiro apresentou palestra sobre Agroecologia e Sustentabilidade no auditório da Federacite, no parque Assis Brasil. Mais de 80 pessoas participaram do evento, que contou com a presença de representantes da Emater, da Fetag, do Irga e do Ministério da Agricultura, entre outros.
As culturas predominantes também foram debatidas durante o encontro. “Hoje, nós temos uma desterritorialização que nos leva à fome. E essa desterritorialização faz com que a nossa agricultura fique nas mãos de quatro grandes empresas, e eles não produzem alimentos, produzem commodities”, afirmou Pinheiro, acrescentando que as lavouras atualmente estão reduzidas a soja, milho, trigo e mais duas ou três culturas. “Perdemos a noção do que era vida, do que era solo, do que era agricultura. Então, temos que começar a recuperar algumas coisas antes de fazer agroecologia”, refletiu Pinheiro.
Sobre o caminho a ser percorrido para a agroecologia avançar, Sebastião Pinheiro explica por meio de uma metáfora: “Nós estamos apagando incêndios construídos pela agricultura industrial moderna. Hoje, nós estamos vendo os jovens fazendo agroecologia apagando incêndios. O bombeiro agroecológico é aquele ser que está remediando situações e simultaneamente construindo uma nova realidade a partir dos remendos que ele faz”, definiu. E acrescentou: “Nós não devemos esperar nada de ninguém. Nós vamos ter que voltar a entender que a coisa mais importante não é o indivíduo, é a comunidade em que ele está integrado”, disse. Para o estudioso, as melhores ferramentas para isso são a ciência, a pesquisa, o ensino e o exercício profissional.
Agricultura alternativa e alimentos orgânicos
O auditor fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura (Mapa), José Cleber de Souza, fez um apanhado histórico sobre o surgimento da agricultura alternativa no mundo, no Brasil e no Estado. “O Rio Grande do Sul é onde essa política de agroecologia mais avançou”, disse o agrônomo. Responsável pelo Programa Pró-Orgânico e secretário-executivo da Comissão da Produção Orgânica do Estado, Souza destacou que a região Sul do Brasil é a que tem o maior número de produtores orgânicos. Entretanto, ressaltou, atualmente as políticas públicas voltadas a estas iniciativas estão em compasso de indefinição.
“É importante trazer este debate para dentro de um evento como a Expointer. Já foi assim, um tempo atrás, quando a agricultura familiar ainda não participava da feira”, lembra Antonio Augusto Medeiros, presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro), uma das entidades promotoras do debate. A ideia é proporcionar uma reflexão sobre a agroecologia e a produção de orgânicos como alternativas.
O debate foi organizado pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul – Sintergs com o apoio da Afagro, da Assagra – Associação dos Servidores de Ciência Agrárias RS, da Agefa – Associação dos Agentes de Fiscalização Agropecuária do Estado do Rio Grande do Sul e da Assep – Associação dos Servidores da Pesquisa Agropecuária.