Crise na Amazônia: especialista confia em conciliação do G7 para que Brasil aceite apoio

G7 decidiu enviar ajuda imediata para combater os focos de incêndio na região

Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

Após encontro dos líderes do G7 para tratar da situação das queimadas na Amazônia, a questão segue sendo tema principal na política brasileira neste começo de semana. O grupo decidiu enviar ajuda imediata para combater os focos de incêndio na região, enquanto o presidente Jair Bolsonaro questionou a intenção dos estrangeiros no país. Helena Margarido Moreira, doutora em Geografia pela USP, especialista em política climática internacional e professora de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, acredita que haverá postura de conciliação por parte do grupo para que o país aceite ajuda.

A especialista ressalta que o grupo dos países mais ricos do mundo deve evitar confronto, para facilitar o aceno positivo do Brasil à ajuda externa. “Não entrar nesse conflito é a melhor alternativa para que o Brasil aceite o apoio internacional”, disse ela. Conforme a professora, a decisão de conciliação do G7 é explicitada pelo isolamento do presidente francês, Emmanuel Macron, que teceu duras críticas a Jair Bolsonaro.

Sobre as posturas conflitantes dos presidentes francês e brasileiro, a professora ressalta que, em situações como essa, “sempre há declarações (polêmicas, individuais) dos líderes”, e que a postura do governo federal incentiva pontos de vista mais exaltados. “Por várias ações do governo que não inspiram nenhuma confiança de que o desmatamento vá ser uma preocupação real do governo é que surgem essas polêmicas”, concluiu. (Macron disse que o Brasil merece um líder à altura; já Bolsonaro retuitou um seguidor que usava a aparência física das primeiras-damas como argumento de suposta “inveja” do brasileiro. O presidente brasileiro ainda acrescentou as palavras “não humilha, kkk” à postagem do internauta).

A soberania da Amazônia, argumento defendido pelo presidente Bolsonaro, encontra eco em outros países, disse a docente. Entretanto, ela ressalta que é preciso estar atento à destruição de dados oficiais e ao descrédito à ciência e ao trabalho científico na região. “Para provar que não existe taxa de desmatamento, você demite um cientista (sobre a exoneração de Ricardo Galvão, ex-diretor do INPE). O INPE tem reconhecimento internacional sobre os dados que apresenta”, lamentou.

Questionada sobre uma reação real do governo ao desmatamento e às queimadas, disse que “é muito difícil prever”, mas que pessoalmente acredita que o combate “não será o suficiente”. Ressalva, ainda assim, que a postura mais cautelosa do próprio segmento do agronegócio pode ser um diferencia. “Uma série de representantes desses interesses, como Blairo Maggi (ex-Ministro da Agricultura), começaram a criticar uma postura agressiva. Então, as respostas são para garantir que o agronegócio não será prejudicado”, ponderou.

Helena ainda comentou sobre a situação dos povos indígenas da região amazônica, que vem tendo seu território ameaçado. Ela garante que há um conflito com ruralistas na região, e que a situação que chega até nós é muito mais branda do que a realidade. “Políticas públicas para desenvolver a Amazônia de forma sustentável, preocupação com as populações indígenas, isso eu não vislumbro. Nenhuma das declarações do Governo deram, até hoje, sinal de que essa preocupação existe”, entende a doutora.

Ouça a entrevista completa aqui: https://open.spotify.com/episode/4yi0lofZ845Ma09FiQbPpo?si=N0mU831xTDWu-X0HVU_ZkA