Humorista Marcelo Madureira é expulso de ato contra lei de abuso de autoridade

Humorista disse que votou em Bolsonaro, mas manteve críticas ao presidente

Humorista foi hostilizado | Foto: Marcelo Madureira/Reprodução/CP

O humorista Marcelo Madureira teve de sair escoltado pela Polícia Militar de um ato organizado pelo Movimento Vem Pra Rua na praia de Copacabana, no Rio, por fazer críticas ao governo Jair Bolsonaro. Do alto do carro de som, ele foi alvo de gritos de “fora” e “desce, teu carro é outro” por parte de manifestantes vestidos de verde amarelo e com camisas com o rosto do presidente da República e do ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro. As informações foram publicadas pela Agência Estado.

“Não tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar todas as vezes que for necessário. Como justificar uma aliança do Jair Bolsonaro com o Gilmar Mendes para acabar com a Operação Lava Jato? É isso que está acontecendo”, disse Madureira antes de ter o microfone cortado.

Os organizadores tiveram de apelar ao público para “não dividir o movimento”. Pouco depois, Madureira desceu e foi escoltado por policiais militares até um táxi, recebendo vaias de alguns e os parabéns de outros. “É uma minoria de pessoas que não sabem viver em um regime democrático. O governo está fazendo coisa errada”, disse.

Liderando manifestações em mais de 60 cidades contra a Lei do Abuso de Autoridade neste domingo, o Movimento Vem Pra Rua, de apoio à Lava Jato, escolheu a casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) como um dos dois pontos de concentração no Rio. Ele é visto pelo movimento como o comandante de “manobra” que levou à aprovação “à toque de caixa e de madrugada” do projeto pelos deputados federais, no último dia 14.

Por volta das 10h30min, cerca de 80 pessoas vestidas de verde e amarelo se concentraram na porta do prédio de Maia, na praia de São Conrado, aos gritos de “Fora Maia” e “Veta Bolsonaro”. Também levaram cartazes e faixas com inscrições como “Rodrigo Maia Inimigo da Lava Jato”, “Botafogo apoia a corrupção”, em referência ao suposto codinome atribuído a Maia em planilha da Odebrecht.

O texto aprovado na Câmara define os crimes de abuso de autoridade cometidos por servidores públicos, militares, membros dos poderes Legislativo, Executivo, Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais ou conselhos de contas. A proposta lista uma série de ações que poderão ser consideradas crimes com penas previstas que vão de prisão de três meses até 4 anos, dependendo do delito, além de perda do cargo e inabilitação por até cinco anos para os reincidentes.

Na ocasião, Maia disse que o texto aprovado é o mais justo, por abranger todos os Poderes: “O texto é o mais amplo, onde todos os poderes respondem a partir da lei”, destacou.

“É uma lei que não está protegendo o cidadão comum, mas os bandidos da velha política. O vetar tudo seria o recado de que ele (Bolsonaro) não vai retroceder na luta contra a corrupção”, disse a coordenadora do Vem Pra Rua no Rio, Adriana Balthazar, para quem Maia é considerado um traidor.

O presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo pressão de políticos, entidades de classe e até de Moro para barrar a lei. A medida é vista como uma reação do mundo político à Operação Lava Jato, pelo fato de permitir a criminalização de condutas que se tornaram comuns em investigações no País. Na quinta-feira, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente que vete o texto.

“O que temos visto é um ataque orquestrado contra algumas das maiores instituições do País, responsáveis pela maior operação anticorrupção do mundo, como o Ministério Público e seus agentes”, sustenta o Vem Pra Rua no texto de convocação da manifestação.

Além do veto, os atos do Vem Pra Rua pedem que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, encaminhe para discussão na casa os pedidos de impeachment de Dias Toffoli, presidente do Supremo; a manutenção da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a indicação de Deltan Dallagnol para procurador-geral da República.

Durante o ato, os manifestantes criticaram a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Justiça. Por medida provisória, o órgão foi transferido para o Banco Central, transformado, teve o nome mudado para Unidade de Inteligência Financeira e teve a composição alterada, permitindo o recrutamento de integrantes fora do serviço público, o que foi visto como uma forma de abrir o órgão para indicações de cunho político.

Vestida com uma camiseta com a foto de Moro e a hashtag #Morobloco, a manifestante Suzana Correa disse que a fritura do ministro pelo governo Bolsonaro ” é coisa da imprensa”. Afirmou, porém, que o ex-juiz e o ministro da Economia Paulo Guedes são os pilares do atual governo. “Não sou Bolsonaro, votei contra o que estava aí”, disse.
Em São Conrado, a repórter do Estadão foi, por duas vezes, abordada de forma ameaçadora por manifestantes. Não houve agressão física.