PF ameaça ‘implodir’ se houver interferência de Bolsonaro em comando no Rio

Com imposição do presidente, ministro Sergio Moro pode aceitar e perder controle da PF ou rejeitar e pedir demissão

Foto: Marcos Corrêa / Palácio do Planalto

A tentativa do presidente Jair Bolsonaro de interferir na escolha do superintendente da Polícia Federal no Rio é mais um capítulo da disputa velada de forças que ele trava com o ministro da Justiça, Sergio Moro. A PF não aceita indicação de “cima para baixo” para o preenchimento dessa vaga e ameaça implodir caso o ministro ceda a uma interferência do Planalto, publicou hoje o jornal O Estado de S.Paulo.

Segundo a reportagem apurou, se Bolsonaro insistir em impor a vontade dele, para Moro restarão duas alternativas. Uma é aceitar e perder o controle da Polícia Federal. A outra é rejeitar a interferência e pedir demissão do cargo.

De acordo com o Estadão, dirigentes da PF dizem que não vão agir como os colegas da Receita Federal, que vêm sendo atacados pelo presidente constantemente sem reação.

Bolsonaro falou sobre o assunto duas vezes nesta sexta-feira. Primeiro, avisou que é ele “quem manda” e indicou que pretende colocar na vaga de superintendente da PF no Rio o atual responsável pela PF no Amazonas, Alexandre Saraiva.

Em nova entrevista, horas depois, baixou o tom. “Eu sugeri o de Manaus. Se vier o de Pernambuco não tem problema, não”, afirmou. Essa última declaração ajudou a acalmar a PF.

Saraiva é próximo dos filhos do presidente e já foi cotado para assumir o Ministério do Meio Ambiente. No início de dezembro, Bolsonaro chegou a sondá-lo, mas acabou escolhendo Ricardo Salles para comandar a pasta.

Na primeira entrevista que concedeu na sexta sobre o assunto, Bolsonaro foi bem assertivo. “Está pré-acertado que seria lá o de Manaus… Se ele resolver mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu… deixar bem claro”, avisou.

“Se eu for trocar os superintendentes, qual é o problema? É igual o Coaf. Eu tentei deixar o Coaf com Moro via medida provisória, o Congresso botou na Fazenda e o Paulo Guedes que decide”, complementou.

O comentário do presidente respondeu a uma nota divulgada pela PF informando que o delegado Carlos Henrique Sousa deve ocupar a vaga de Ricardo Saadi no Rio.

O nome de Sousa entrou na nota propositadamente para evitar uma indicação política da parte do presidente. A nota rebateu também críticas de Bolsonaro a Saadi.

A reportagem do Estadão apurou que Moro autorizou o texto. A indicação dos superintendentes da PF é prerrogativa do diretor-geral da instituição, mas o presidente da República pode vetar qualquer nome por se tratar de cargo de confiança. Não é comum, contudo, a interferência.

No dia em que anunciou Moro na equipe, Bolsonaro prometeu um “superministério” e “liberdade total”. “Eu não vou interferir em absolutamente nada que venha a ocorrer dentro da Justiça no tocante a esse combate à corrupção. Mesmo que viesse a mexer com alguém da minha família no futuro. Não importa. Eu disse a ele: é liberdade total pra trabalhar pelo Brasil “, disse à época.