O vereador em São Paulo, Gilberto Natalini (PV), lembrou com pesar, nesta terça-feira, as torturas que sofreu nas mãos do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsável por chefiar o DOI-Codi do II Exército, na capital paulista. Estudante de Medicina na década de 1970, Natalini recordou ter sido vítima de choques e espancamentos, em geral, comandados pelo oficial.
“Eu sou deficiente auditivo das duas orelhas por conta dos choques. O Ustra era uma monstruosidade. Ele era uma pessoa que se afastou da raça humana porque ele era um ser bestial. Tortura é o ato mais abominável, abjeto e inescrupuloso, que o ser humano pode fazer”, desabafou.
Em entrevista para o Esfera Pública, o vereador narrou as torturas sofridas e lembrou ter sido vítima da ditadura sem nunca ter pegado em armas. “A única arma que uso é meu bisturi, para salvar vidas”, reforça.
Natalini também repudiou a postura do presidente Jair Bolsonaro, que exalta a trajetória do militar e o classifica como “herói nacional”. “O presidente é insano, doido ou bestial. Se eu encontrar o Bolsonaro eu vou falar para ele retornar para a espécie humana, pois não é humanista defender a tortura”, criticou. O vereador também deixou claro que reforça o discurso contra o presidente sem ter votado no PT, no pleito do ano passado.
Após o trauma vivido, Natalini reencontrou Ustra, em 2013, durante sessão da Comissão Nacional da Verdade. Ao ser chamado de “terrorista” pelo militar, rebateu a acusação ao afirmar que terrorista era o militar.
Carlos Alberto Brilhante Ustra se tornou o primeiro oficial das Forças Armadas condenado pela Justiça, em ação declaratória, por sequestro e tortura durante a ditadura militar, no Brasil. O oficial morreu em 2015.
