Polícia vê indícios de envolvimento de 22 presos em mortes em caminhão-cela no Pará

Segundo autoridades, houve falha na transmissão do sinal das câmeras quando o veículo passou por um trecho de estrada não-asfaltada

Foto: Reprodução Google Maps

A Polícia Civil do Pará revelou hoje ter indícios apontando para a participação de 22 presos na morte de quatro detentos no interior de um caminhão-cela durante a transferência do Centro de Recuperação Regional de Altamira para uma unidade prisional de Belém.

Segundo a assessoria da corporação, os 26 homens que eram transferidos no interior do veículo quando os quatro detentos foram estrangulados já prestaram depoimento. Para o delegado responsável pelo caso, não há elementos que comprovem a participação de quatro dos 26 depoentes nos crimes.

Os outros 22 foram autuados em flagrante por associação criminosa e homicídio. Nenhum deles assumiu a autoria dos crimes, mas a Polícia Civil confirmou que existem elementos indicando que todos participaram ativamente das mortes, ou se omitiram. O inquérito vai ser agora apresentado à Justiça de Marabá e ao Ministério Público do Pará, ao qual cabe verificar se há provas suficientes para indiciar todo o grupo.

Ontem, o delegado-geral Alberto Teixeira já havia antecipado a informação de que os investigadores tinham informações sobre o envolvimento direto de nove presos nas quatro mortes. Segundo Teixeira, os quatro foram encontrados com as algemas plásticas. Ainda de acordo com o delegado-geral, outros detentos podem vir a responder por omissão relevante, pois tinham como ver o que ocorreu.

Tanto os mortos quanto os suspeitos possuem marcas e arranhões, o que indica luta corporal, e por isso deverão ser feitos exames de DNA para confirmar quem cometeu os crimes.

Estrangulamento
Um laudo do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, do Pará, atestou que os quatro presos assassinados foram mortos por asfixia mecânica (estrangulamento).

Em nota divulgada na noite dessa quarta-feira, a Secretaria estadual de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informou que a perícia também demonstrou que, devido ao isolamento da parte interna do veículo, não é possível aos agentes escutar, da boleia, o que acontece dentro do baú do caminhão.

Ainda de acordo com a pasta, como o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, proíbe que agentes prisionais viajem junto com os detentos, no interior do baú do caminhão-cela, os presos eram monitorados por um sistema de quatro câmeras acompanhadas em tempo real a partir da boleia do veículo.

Segundo a Segup, houve uma falha na transmissão do sinal das câmeras quando o veículo passou por um trecho de estrada não-asfaltada – fato que, segundo a pasta estadual, ocorreu entre os municípios de Novo Repartimento e Marabá, possivelmente no momento dos crimes.

A secretaria informou que os 30 detentos transferidos de Altamira na ocasião pertencem a uma mesma facção criminosa; já cumpriam pena em celas da mesma ala e participaram da chacina que deixou 58 mortos na última segunda-feira.

Eles eram transportados algemados, divididos em quatro celas que, juntas, tinham capacidade para até 40 pessoas. O estado não dispõe de celas individuais em caminhões.