“É muito cedo para falar em expulsão”, comenta Gadêlha sobre pedetistas que votaram pela reforma

Deputado pernambucano defendeu que parlamentares podem mudar de ideia e considerou erro concentrar críticas somente em Tabata Amaral

Foto: Alina Souza/CP

O deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE) defendeu, nesta terça-feira, que a expulsão de parlamentares da legenda que votaram a favor da Reforma da Previdência no primeiro turno na Câmara seja melhor ponderada. Em entrevista ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, ele considerou um erro concentrar as críticas somente em Tabata Amaral, um dos nomes em ascensão da sigla e que atualmente integra a Comissão de Educação na Câmara.

“É muito cedo para falar em expulsão. Entendo a mágoa do Ciro Gomes com a Tabata, ele esteve várias vezes em São Paulo fazendo campanha para ela. Mas eu acho muito ruim fazer um debate sempre personificando em uma pessoa”, argumentou, defendendo que é preciso discutir “o quanto essa reforma tem sido prejudicial ao povo, à classe mais pobre”. Ele lembrou que Tabata é uma das mais jovens do partido: “Quando personificamos a culpa, terminamos nos esquecendo que tiveram outros sete que são mais experientes que ela”.

Entre os que não seguiram a orientação partidária está o gaúcho Marlon Santos, que publicou um vídeo em redes sociais desafiando o PDT a cancelar a filiação dele e criticando a falta de pluralismo na legenda. Gadêlha relatou que não conversa muito com o colega, mas disse discordar desse argumento. “É um cara esclarecido, que compreende as bandeiras do partido. Ele não pode falar que não houve democracia. Não tivemos divergência em momento algum, nenhum deputado levantou a mão quando fechamos questão (sobre a reforma). Não acho correto falar que não há democracia interna, porque existiu espaço de debate”, rebateu.

O pernambucano não descarta a possibilidade de que alguns do “dissidentes” mudem de ideia, na próxima votação, ainda que a maioria tenha se mostrado firme ao se posicionar. Ele explicou que o PDT reuniu os oito deputados que votaram contra e que muitos se posicionaram defendendo que mantenham autonomia. “Só que a reforma ataca os mais pobres, e o mais grave é que os deputados que não reconhecem, achando que estamos fazendo defesa de uma bandeirinha do partido.”

Gadêlha também considera que a vitória expressiva obtida pelo governo no primeiro turno – foram 379 votos pró-medida, quando o mínimo necessário para aprovação era de 308 – não se repete na nova rodada, marcada para ocorrer após o retorno das atividades na Câmara, em agosto. “Deve existir uma quebra, porque existe uma pressão popular” avaliou.

Polêmica com o Nordeste
O deputado também comentou a polêmica envolvendo o áudio capturado na última sexta-feira no qual o presidente Jair Bolsonaro fala que “dos ‘paraíbas’ (em referência aos governadores do Nordeste), o do Maranhão é o pior”.

Para Gadêlha, a frase do chefe do Executivo federal é xenófoba e, além de não representar os nordestinos, ofende a população de lá. “Nunca me enganou. existe em torno do governo um nível de ignorância sobre o Brasil, o índice de pobreza, a fome, os estados e suas peculiaridades. Acho que o presidente quando se pronuncia, sempre se atropela e fala bobagem. Mas nosso povo está antenado no que acontece”, disse.

Sobre propostas de lei para o primeiro mandato, Gadêlha explicou que trabalha em duas frentes principais, a primeira delas relativa a um projeto de colaborativismo que valorize e melhor recompense as pessoas que fazem trabalho voluntário. “A gente não tem um programa de beneficiamento para pessoas que fazem isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, você tem créditos quando vai prestar um concurso, entrar na universidade”, defendeu. A ideia é que mais pessoas participem da modalidade; apenas 4,3% dos brasileiros fazem trabalho voluntário, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada em abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O segundo projeto do pedetista defende maior transparência nas cadeias de produção, para melhor análise de redes de trabalho informal, infantil e análogo à escravidão – uma espécie de “selo verde” às empresas. “É muito difícil, porque temos que nos desdobrar, nos dividir. Enquanto pensamos em progredir, temos que olhar para trás, porque esse governo parece que está séculos atrás. A discussão sobre trabalho infantil, isso é uma coisa que ficou no século passado. Vivemos dias de retrocesso”, exemplificou.