Greenwald avisa que vazamentos seguem e que não teme investigação

Jornalista participou de audiência da CCJ, a pedido do senador Randolfe Rodrigues

Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, classificou como atentado à liberdade de imprensa as notícias de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, possa estar, por meio da Polícia Federal, investigando a vida dele e de outros profissionais do site. “Há notícias de que ele está investigando e ele nunca negou. Isso mostra a mentalidade do ministro. Ele quer que fiquemos com medo e apreensão. Não temos medo nenhum. Continuamos publicando depois disso. Vamos continuar publicando”, ressaltou.

Greenwald participou da reunião da CCJ a pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para falar sobre os vazamentos de conversas entre o ex-juiz e atual ministro Moro, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, e outros procuradores, pelo aplicativo Telegram.

O jornalista contou que recebeu as informações de uma fonte que não quer ser revelada e ressaltou que a Constituição Federal e o Código de Ética dos Jornalistas garantem o sigilo. Glenn, que é também advogado formado nos Estados Unidos, disse ter ficado chocado ao ler o material pela primeira vez. E reiterou que ele evidencia que Moro não só colaborou com os procuradores, mas também deu ordens à força-tarefa da Lava Jato.

Na exposição inicial, o jornalista também lamentou a baixa presença de senadores, em especial do partido do governo, que, apesar de o atacarem virtualmente, não compareceram para debater.

O jornalista americano reforçou ainda que não está à serviço de nenhum partido ou político. “Eu sou jornalista, não sou político. Não tenho fidelidade com qualquer partido. Publicamos artigos criticando partido de direita e de esquerda, inclusive o do meu marido [David Miranda, do PSOL-RJ]. Somos independentes. Estamos defendendo os princípios cruciais e fundamentais para uma democracia: a imprensa livre”, reforçou.

Desde 9 de junho, o The Intercept Brasil, em parceria com outros veículos, vem revelando uma série de conversas privadas que, segundo Greenwald, mostra Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.

Vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden, Glenn Greenwald, destacou que à época não teve a credibilidade posta em xeque.

“Pelo contrário, vim ao Senado e todo mundo nos parabenizou porque todo mundo aqui no Brasil conseguiu perceber porque essa reportagem era tão importante. Ninguém ameaçou a gente naquela época, e que deveríamos ser investigados ou presos. Pelo contrário, fomos premiados”, destacou.