Uma cerimônia simples, com a presença apenas de familiares e amigos próximos, em um cemitério repleto de árvores floridas, com o silêncio quebrado somente pelo canto dos pássaros, marcou o adeus a João Gilberto, que morreu no sábado, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. A cerimônia ocorreu no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, onde a família mantém jazigo.
Após uma prece entoada por um dos sobrinhos, a filha do músico, Bebel Gilberto, bastante emocionada, deu adeus e agradeceu ao pai, à beira da sepultura. João Gilberto teve o corpo enterrado ao som de aplausos, como os quais ele se acostumou a ouvir ao fim de cada um de seus shows, ao longo de toda a vida.
A filha, que veio dos Estados Unidos, onde mora e trabalha, especialmente para o velório e sepultamento do pai, falou ao final, agradecendo a ele pelos ensinamentos musicais, e lembrou o homem carinhoso, voltado à família, além de destacar a importância dele para a música brasileira.
“Papai inventou um som. Uma marca. Isso é eterno, vai ficar para sempre. Ele ensinou muita gente, inspirou muitos músicos”, declarou Bebel, que já havia perdido a mãe, a cantora Miúcha, em dezembro. “Ainda bem que a gente está neste lugar tão lindo, cercado da família e de vocês, que estão nos apoiando tanto. Muito obrigada a todos. Papai era luz. Pura música. Muito gente boa. A pessoa mais linda do mundo”, completou.
Velório se encerrou com homenagem no Theatro Municipal
Durante toda a manhã e o início da tarde, fãs, amigos e parentes passaram pelo Theatro Municipal do Rio, na Cinelândia, para se despedir de João Gilberto.
Por muitos considerado o pai da bossa nova, João Gilberto é tido pelo pesquisador e historiador da música brasileira Ricardo Cravo Albin como o responsável por mostrar para o mundo o talento musical do Brasil.
“Não dá para mensurar o tamanho da perda de João Gilberto, porque ele é a criação da música brasileira contemporânea e a criação da música brasileira internacionalizando pela primeira vez todo um contexto de samba. Porque a bossa nova, que ele criou, e ele dizia com toda a razão, não é senão samba. Portanto, é o gênero mais autêntico do Brasil”.
A cantora Teresa Cristina disse ter sido influenciada por ele, mesmo sem ter tido a oportunidade de ver pessoalmente João Gilberto cantar. Para Adriana Calcanhotto, João Gilberto inspirou gerações de artistas. “Muitos artistas, de música e outras áreas, são influenciados pelo João até sem saber que são”, declarou.
Pouco antes das 14h, integrantes do coro e da orquestra do Theatro, regidos pelo maestro e compositor Tim Rescala, tocaram e cantaram Jesus Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach, e Ave Verun Corpus, de Wolfgang Amadeus Mozart.
Após a primeira parte da apresentação musical, o padre Omar Raposo, reitor do santuário do Cristo Redentor, celebrou uma missa, que se encerrou com a execução de Air, de Bach e Chega de Saudade, obra de Tom Jobim imortalizada na voz de João Gilberto e acompanhada por todo o público presente cantando junto.
