Passados cinco anos desde a contratação dos aprovados no último concurso público da Secretaria da Agricultura (Seapdr), em 2014, o Estado deixou de ser atrativo para os servidores que atuam como fiscal estadual agropecuário. Levantamento da Associação dos Fiscais Estaduais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro) mostra que, neste período, pelo menos 33 profissionais, entre agrônomos e veterinários, já deixaram a atividade. Este número representa uma perda de 27,5% dos talentos aprovados no certame em 2013, quando a oferta foi de 120 vagas para a função de fiscal estadual agropecuário. Vale ressaltar que estes números referem-se apenas ao concurso mais recente. Se forem consideradas as desistências dos aprovados em concursos anteriores, bem como as aposentadorias, o déficit é ainda maior.
Uma das aprovadas foi a veterinária mineira Cassia Loures Bellozi, que na época morava em Mato Grosso do Sul. “Você entra querendo fazer a mudança e resolver todos os problemas nos estabelecimentos, mas não consegue porque não tem o apoio necessário para a tomada de decisão”, relata a profissional, que chegou a ser ameaçada de morte mais de uma vez. Cassia assumiu como fiscal estadual agropecuária em 2014, na regional de Caxias do Sul. No período que residiu no Estado, fez especialização em Produção, Tecnologia e Higiene de Alimentos de Origem Animal pela UFRGS. Mas, no final de 2017, a pressão política e a questão salarial motivaram a decisão de abandonar a função. Mesmo sem ter um trabalho fixo em vista, decidiu ir para São Paulo atuar como consultora.
Presidente da Afagro, Antonio Augusto Medeiros avalia que este cenário ocorre devido a um sentimento de inquietação causado por uma narrativa contra os servidores públicos. “Este contexto, somado à desvalorização da atividade, fez o Estado perder dezenas de colegas qualificados, muitos com mestrado e doutorado”, lamenta. Aproveitando o Dia do Fiscal Estadual Agropecuário, comemorado na próxima terça-feira (25 de junho) – a data foi instituída em 2014 pela Assembleia Legislativa do RS, o dirigente chama a atenção para a necessidade de valorização da função, que atua em todas as etapas do processo de produção e tem como responsabilidade garantir a qualidade e a procedência dos alimentos de origem animal e vegetal.
Especialista em Produção de Ruminantes pela Esalq/USP e mestre em Nutrição de Ruminantes pela Universidade Estadual de Maringá, o veterinário paulistano Sérgio Mangano de Almeida Santos atuou durante quatro anos – de maio de 2014 a julho de 2018 – na função de fiscal estadual agropecuário, em Carazinho. Neste período, deixou a esposa no Paraná e apostou na oportunidade de carreira no RS. Entre os motivos da saída, menciona o parcelamento dos salários somado “à falta de perspectiva da carreira em si”, além da questão pessoal. Quando abriu o concurso do Ministério da Agricultura, Sérgio se dedicou a estudar e foi aprovado para a vaga de auditor fiscal na superintendência do PR.
Outro caso é o da veterinária gaúcha Bianca Crauss Bolsson, que trabalhou na inspeção de frigoríficos de 2014 a 2018, em Taquara. A profissional também passou por situações de desacato, pressão política e ameaça. Entretanto, o que foi determinante para a sua decisão de sair foi a impossibilidade de conseguir transferência para um local mais próximo de Porto Alegre. “Depois de quatro anos vi que dificilmente conseguiria, pois os critérios de transferência não são claros”, relatou Bianca, que também fez especialização em Produção, Tecnologia e Higiene de Alimentos de Origem Animal na UFRGS. Quando soube de sua aprovação em concurso da Secretaria da Saúde, decidiu deixar a função de fiscal estadual agropecuária.