Ex-presidente chama Moro e Deltan de mentirosos e fala que Bolsonaro surgiu do “Volta Lula”

Também hoje, defesa anexou diálogos publicados pelo The Intercept Brasil ao habeas corpus que vai ser julgado pelo Supremo, em 25 de junho

Foto: Reprodução / Facebook / CP

Em entrevista gravada na quarta passada e exibida, nessa quinta-feira, pela emissora sindical TVT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a condução do processo criminal, relativo à propriedade de um triplex no Guarujá (SP), pelo qual recebeu a primeira condenação penal do então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública.

“Ele (Moro) estava condenado a me condenar porque a mentira havia ido muito longe”, disse. Preso desde 7 de abril do ano passado, Lula chamou Moro e Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Ministério Público Federal do Paraná, de “mentirosos”, e defendeu, inclusive, a prisão do procurador.

O ex-presidente, contudo, disse estar sereno. “A máscara vai cair. O que vai acontecer, eu não sei”, e completou: “Eu estou mais tranquilo hoje, porque a minha tranquilidade é daquele que sabe que é honesto. Que sabe que Deus sabe que eu sou honesto. O Moro sabe que eu sou honesto.”

Instituições como a Polícia Federal, prosseguiu, “não podem ser manipuladas por moleques irresponsáveis”. O ex-presidente também atribuiu a eles a culpa pela desestabilização das estatais, acusando a PF e o Ministério Público de estarem “a serviço de interesses americanos”, e não do combate à corrupção.

“Provem que Lula é culpado que eu fico quieto. Me desmoralizem, deixem minha neta envergonhada”, desafiou o político. “Eu fico indignado! Isso é irresponsável. O Moro não olha nos olhos quando fala na TV. Ele e o Dallagnol. Eles não têm coragem”, acrescentou.

Lula frisou, ainda, que ele e o PT sempre foram favoráveis a que se combata a corrupção. “O PT criou mecanismos de proteção da coisa pública. Se alguém cometeu erro, tem que pagar”, reforçou. “Querem me punir, ótimo. Mas todos têm que ser julgados com respeito à Constituição e com provas. Não posso prender o vizinho por não gostar dele. E daí estou há mais de um ano aqui, apenas querendo que leiam o processo.”

É a primeira vez que o ex-presidente se manifesta depois da divulgação das supostas conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ministro Sergio Moro.

Questionado sobre o governo atual, ele disse que o País “pariu essa coisa chamada [Jair] Bolsonaro”. Segundo o petista, isso resultou de uma série de fatos políticos que começaram com o movimento “Volta, Lula”, passando pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a chegada do então vice-presidente Michel Temer à Presidência.

O ex-presidente afirmou que, quando começou o movimento “Volta, Lula”, foi “obrigado” a fazer um discurso, em um evento no Anhembi, em São Paulo, falando que não era candidato, mas sim Dilma, “por direito”. Lula disse que, a partir do “Volta, Lula” e do anúncio de que não pretendia disputar o pleito, empresários começaram a se afastar do governo.

Lula disse, então, que na segunda campanha de Dilma, o hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG), então candidato a presidente, “fez a bobagem que fez” de não reconhecer a vitória do PT e pedir recontagem de votos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Depois, relembrou, vieram o impeachment, a chegada de Temer ao poder e a eleição de Bolsonaro.

Defesa anexa troca de mensagens a pedido de habeas corpus

Também hoje, a defesa de Lula incluiu, em um pedido de habeas corpus apresentado ao Supremo Tribunal Federal, a transcrição de mensagens supostamente trocadas entre o então juiz Sergio Moro e integrantes da força-tarefa da Lava Jato. As mensagens foram publicadas no domingo passado pelo site The Intercept Brasil. Para os advogados, os diálogos mostraram “completo rompimento da imparcialidade objetiva e subjetiva”.

O pedido de habeas corpus acusa Moro de ter agido com parcialidade ao condenar Lula no caso do triplex e, depois, assumir cargo no primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro.

O recurso deve ser julgado em 25 de junho pela Segunda Turma do Supremo. Lula cumpre pena de 8 anos, 10 meses e 20 dias de prisão – pena imposta em terceira instância pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“Justiça vingativa”

Pela manhã, Moro afirmou que a atuação dele no combate à criminalidade e à corrupção não é “uma espécie de justiça vingativa”, mas uma forma de proteger as pessoas. O ministro participou do lançamento do pacto nacional pela implementação do sistema de garantias de direitos da Criança e do Adolescente vítima de violência.

“Quando eu fui convidado pelo Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, houve uma convergência absoluta no que se refere às minhas intenções e às dele, de que o objetivo seria sermos firmes contra o crime organizado, corrupção e a criminalidade violenta. Para deixar tudo muito claro, tanto a minha visão quanto a do presidente, não é fazer isso por uma espécie de justiça vingativa, embora fazer justiça seja importante. Não evidentemente vingança”, disse.

*Com informações da Agência Estado

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