“Não há como prever”, garante Defesa Civil, sobre risco de barragem em MG

Situação assusta moradores de Barão de Cocais e arredores

Foto: Google Maps/Reprodução

O coordenador adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio Godinho, disse hoje, em Barão de Cocais (MG), que não há como prever, com total segurança, quando o talude da mina de Gongo Soco vai ceder e, principalmente, se o desmoronamento do paredão deve ou não causar o rompimento da barragem Sul Superior da mina.

“O talude pode ceder amanhã? Pode. Como também pode não se romper. Ele pode ceder depois de amanhã, daqui a uma semana”, disse Godinho. Segundo ele, as informações contidas nos documentos da própria Vale, empresa mineradora dona da mina de Gongo Soco, que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) tornou pública no último dia 16 são “projeções”.

“E se não acontecer? Já falamos qual é a situação, que o talude corre risco, que não há certeza de que a barragem vá se romper e que todas as ações para mitigar o problema já foram adotadas. Não há um estudo técnico para dizer quando ele vai ceder. A projeção é que até amanhã ele venha a se romper, mas acreditamos que, se o talude se romper, o carreamento [do material] pode se deslocar para o interior da cava e se integrar ao ambiente”, disse.

Taludes são planos de terreno inclinados, espécies de paredões cercando a chamada cava da mina a fim de garantir a estabilidade do terreno escavado, e cuja queda pode provocar o rompimento de uma barragem, seja por atingi-la, seja por vibração no terreno. No caso da mina de Gongo Soco, a barragem Sul Superior fica a cerca de 1 quilômetro de distância do talude que ameaça ruir.

De acordo com Godinho, o monitoramento do talude mostra que, só nessa manhã, ele se movimentou 12 centímetros. O deslocamento vem sendo observado desde abril. “Continuamos o monitorando, mas vale lembrar que não há nenhum estudo técnico que afirme que, caso o talude ceda, a barragem vá se romper”, enfatizou o coordenador adjunto da Defesa Civil.

Pior cenário
No último dia 17, ao anunciar a interdição e a suspensão das atividades do complexo minerário, o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Eduardo Leão, declarou que o talude de Gongo Soco certamente vai desmoronar. “Isso é um fato”, disse Leão, ao explicar que operações deve se ater a recuperar a estabilidade das estruturas, até que o talude ceda. “O que estamos fazendo agora é minimizando os riscos, evitando que pessoas transitem dentro da cava ou que sejam atingidas.”

Já o coordenador adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, Flávio Godinho, afirmou, hoje, que, ao traçar os planos de emergência e realizar simulados com a população, a Defesa Civil procura imaginar o pior cenário possível a fim de tentar prevenir todas as situações e, assim, fazer um trabalho preventivo que permita às pessoas saberem exatamente o que fazer e para onde se dirigir em caso de acidentes. Segundo o coordenador, isso acaba estressando os moradores da cidade, que tendem a esperar o pior.

O plano de emergência prevê ações para, se necessário, remover pessoas idosas e com necessidades especiais, além de ações para garantir o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica.

De acordo com Godinho, no pior cenário imaginável, a massa de rejeitos deve percorrer cerca de 40 quilômetros, demorando aproximadamente 1 hora e 12 minutos para atingir a primeira casa em Barão de Cocais; 2 horas e 36 minutos a área rural da vizinha Santa Bárbara, e 8 horas para chegar ao município de São Gonçalo do Rio Abaixo. A literatura técnica, no entanto, calcula que, em caso de rompimento de barragem, o volume de material que vaza não ultrapassa 73% do volume total, o que reduz a distância que os rejeitos atingem e a velocidade com que a percorrem.