Recolhidos carros de luxo e esmeraldas de empresa do RS que prometia retorno em criptomoedas sem autorização

Polícia Civil cumpriu 10 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão

Foto: Guilherme Almeida

Em operação desencadeada pela Polícia Federal e a Receita Federal, nessa manhã, foram bloqueadas dezenas de imóveis e ativos financeiros em nome de pessoas físicas e jurídicas, recolhidos mais de 30 veículos de luxo e uma quantia em dinheiro expressiva. A operação Egypto investiga a atuação de uma instituição financeira sem autorização do Banco Central e que desde fevereiro de 2018 já havia captado cerca de 55 mil clientes de todo o país interessados em investir em criptomoeda. A empresa fica sediada em Novo Hamburgo.

Foram presos cinco sócios, a esposa de um deles e mais quatro colaboradores do esquema. A operação totaliza 18 investigados, sendo 13 pessoas físicas e cinco empresas, conforme a PF. A ação, que teve apoio da Polícia Civil, cumpriu 10 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão em Novo Hamburgo, Porto Alegre, Esteio, Estância Velha e Campo Bom; além de Laguna (SC), Florianópolis (SC) e São Paulo (SP).

O superintendente regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, delegado Alexandre Isbarrola, frisou que a ilegalidade principal era a atividade de captação de recursos de terceiros sem permissão legal. “É crime”, enfatizou.

A investigação, iniciada em janeiro passado, constatou que os investidores de criptomoeda eram atraídos pela promessa de uma remuneração de 15% já a partir do primeiro mês de aplicação, índice considerado muito acima da rentabilidade de mercado. O delegado Eduardo Dalmolin Boliis, da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da PF, lembrou que o simples investimento em criptomoeda não é ilícito. “O problema dessa empresa é que vinha atuando sem autorização”, ressaltou.

O auditor fiscal da Receita Federal, Heverton Luiz Caberlon, revelou que até fevereiro havia em torno de R$ 850 milhões em dinheiro captado dos clientes nas contas da empresa, abertas em três bancos diferentes. Segundo ele, o montante pode passar agora de R$ 1 bilhão.

No Rio Grande do Sul, a captação do dinheiro ocorreu em 288 municípios, sendo que foram depositados R$ 128 milhões apenas em Caxias do Sul seguido de R$ 77 milhões em Porto Alegre e R$ 61 milhões em Novo Hamburgo.

De acordo com o auditor fiscal, em torno de 80% dos investidores aportaram quantias de até R$ 20 mil, somando R$ 271 milhões o que corresponde a 32% do montante dos R$ 850 milhões. “Não ficou cristalino para a fiscalização que houvesse a aquisição de criptomoedas”, observou, ressaltando que a empresa não dispunha de dinheiro suficiente em caso de todos os investidores decidirem resgatar o total investido. “O que existia era a promessa de remuneração dos 15%”, afirmou.

As investigações apuraram que, ao invés de criptomoeda, o dinheiro dos clientes vinha sendo direcionado às escondidas para aplicações tradicionais de renda fixa e com baixa rentabilidade. O dinheiro depositado pelos investidores era muita vezes sacado diretamente pelos sócios da instituição financeira clandestina, incluindo as esposas, sendo que alguns apresentaram enorme evolução patrimonial. “Um deles teve um patrimônio de menos de R$ 100 mil para mais de R$ 30 milhões em menos de um ano”, citou o delegado Eduardo Dalmolin Boliis, acrescentando que nem tudo era declarado ao fisco. “É muito surreal”, admitiu.

As investigações descobriram que o dinheiro servia para a compra de imóveis e carros de luxo, além de esmeraldas, entre outros bens. Um deles, por exemplo, adquiriu um apartamento avaliado em R$ 6,5 milhões em Florianópolis. Outro comprou uma mansão de R$ 3,8 milhões em Novo Hamburgo. Além disso, os recursos serviram para a compra de cinco veículos de luxo no valor entre R$ 200 mil e R$ 500 mil cada, sendo que um sexto automóvel custou mais de R$ 500 mil. Outros seis carros ficaram entre R$ 100 mil e R$ 200 mil cada um. Um determinado sócio gastou, em esmeraldas, R$ 600 mil. A esposa de um sócio também comprou, em pedras, R$ 1,7 milhão. Já um outro sócio esteve em uma loja de grife internacional na capital paulista onde desembolsou mais de R$ 960 mil em artigos como anéis, abotoaduras, relógios, roupas, calçados e broches.

Além dos crimes de operação de instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta, apropriação indébita financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o inquérito da Polícia Federal apura o envolvimento de pessoas, já identificadas, que podem ter tentado obter informações sigilosas da investigação.

A operação se chamou Egypto pela similaridade dessa palavra com o termo “cripto” e pelo fato de o negócio da empresa ter sido classificado por terceiros como de “pirâmide financeira”.