Governo reavalia decreto das armas, revela porta-voz

AGU vai pedir mais prazo ao STF para Presidência se manifestar sobre o texto

Foto: Eduardo Beleske/PMPA

O governo federal está revisando o decreto, publicado em 8 de maio, que mudou as regras sobre aquisição, cadastro, registro, posse, porte e comercialização de armas de fogo. O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, informou hoje, em entrevista a jornalistas, que um dos pontos que pode ser alterado é a permissão para que civis possam adquirir fuzis, caso tenham porte de arma.

“A aquisição de fuzil pelo cidadão, esse é um dos aspectos que está sofrendo avaliação por parte do presidente, juntamente com nossa assessoria jurídica da Casa Civil para, a partir dessa reavaliação, ajustar ou não o decreto”, afirmou.

Antes do decreto, as armas autorizadas para civis eram de até 407 joules de potência, como revólveres de calibre 32 e 38 e pistolas de calibre 380. Com o decreto, essa potência subiu para 1.620 joules, o que passou a incluir armas como pistolas calibre ponto 40, pistola nove milímetros, pistola calibre 45, carabinas semiautomáticas e fuzil semiautomático, como o modelo T4, fabricado pela Taurus.

STF

A Advocacia-Geral da União (AGU) também informou hoje que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prorrogação do prazo para a Presidência da República se manifestar em relação à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) apresentada pelo partido Rede Sustentabilidade contra o decreto. A relatora do caso no Supremo, ministra Rosa Weber, havia concedido um prazo de cinco dias úteis, que se encerra amanhã. O advogado-geral da União, André Luiz de Almeida Mendonça, se reuniu com Rosa Weber durante a tarde para tratar do assunto.

“O objetivo é possibilitar que as manifestações a serem apresentadas ao STF já contemplem possíveis revisões no Decreto 9.785/2019 a partir dos estudos levados a efeito pela AGU, pela Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil (SAJ) e pelas Consultorias Jurídicas do Ministério da Justiça e da Defesa em função dos questionamentos sobre a constitucionalidade do Decreto”, informou a AGU, em nota.

Até o fechamento da matéria, o STF ainda não havia se manifestado sobre o adiamento do prazo.

Governadores

Mais cedo, 14 governadores publicaram uma carta contra o decreto. No documento, eles advertem que as novas regras podem piorar os índices de violência e pedem que o Executivo, Legislativo e Judiciário atuem para a “imediata revogação” da medida.

A carta é assinada pelos governadores do Distrito Federal, Ibaineis Rocha; Flávio Dino, do Maranhão; Wellington Dias, do Piauí; Paulo Câmara, de Pernambuco; Camilo Santana, do Ceará; João Azevedo, da Paraíba; Renato Casagrande, do Espírito Santo; Rui Costa, da Bahia; Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte; Renan Filho, de Alagoas; Belivaldo Chagas, de Sergipe; Waldez Góes, do Amapá; Mauro Carlesse, de Tocantins; e Helder Barbalho, do Pará.

Perguntado sobre a manifestação dos governadores, o porta-voz do Palácio do Planalto disse que o governo federal vai levar em consideração os argumentos, mas que que está orientado a manter a medida com “adaptações”.

O que muda

Além de ampliar a diversidade de calibres de armas de uso permitido, o decreto também aumentou a quantidade de compra de munições para armas de uso permitido (5 mil unidades por ano) e para armas de uso restrito (mil unidades por ano). A norma ainda estendeu a 11 categorias o direito de porte de arma. Foram contemplados, entre outros, instrutores de tiro, colecionadores, caçadores, detentores de mandatos eletivos (Executivo e Legislativo), advogados e jornalistas que façam cobertura da pauta policial.

O decreto abre o mercado e faculta a possibilidade de importação de armas de fogo, desde que autorizada pelo Exército, por diferentes instituições de segurança pública, empresas de comercialização de armamento e munições e pessoas físicas com esse poder.